Filme ‘Como Nossos Pais’ é o grande vencedor do 45° Festival de Cinema de Gramado

Cerimônia que teve o longa de Laís Bodanzky como grande vencedor, foi marcada pela visibilidade trans e pelas manifestações contra Temer.

Foto final com os vencedores Festival de Cinema de Gramado 2017. Crédito Cleiton Thiele / Pressphoto

Por João Rosa, direto de Gramado
Fotos de Nicolle Codorniz

Com os principais prêmios do 45º Festival de Cinema de Gramado, entre eles Melhor Direção e Longa Metragem, Como Nossos Pais, da diretora Laís Bodanzky, foi o grande vencedor na noite de sábado (26) no Palácio dos Festivais. O filme conta a história de Rosa (Maria Ribeiro), uma mulher que enfrenta os dilemas de tentar conciliar a profissão com a vida familiar.

Ainda no tapete vermelho, antes mesmo da premiação, Bodanzky, também diretora do premiado Bicho de Sete Cabeças (2000), respondeu ao Culturíssima sobre as transições de um Festival para outro, principalmente quando o assunto é visibilidade da mulher no audiovisual.

– Eu sinto que o espaço da mulher na sociedade como um todo a cada dia que passa aumenta. Eu também estou espantada com essa mudança. Eu mesma parei para refletir meu espaço como mulher na sociedade recentemente. Hoje ser mulher tá muito mais gostoso do que há 15 anos atrás, tá muito mais gostoso que o ano passado e mais gostoso até que na semana passada, porque a gente tá numa evolução de pensamento e de conquista de espaço, não só no audiovisual, mas em vários outros lugares com uma solidariedade entre as mulheres.

A diretora Lais Bodanzky no tapete vermelho de Gramado (foto: Nicolle Codorniz)

Ainda perguntada se o seu filme seria o grande vencedor da noite, Laís foi enfática no que diz referente ao seu público alvo.

– A gente nunca sabe o que passa na cabeça de um júri. Claro que existe um desejo porque a gente fez esse filme com muito carinho. Sem dúvida nenhuma toda a equipe torce. Sempre faço o pensamento que a gente não faz um filme para competir. Fazemos um filme para apresentar para o público para que eles vivam esse sonho. Eu falo que eu não trabalho na indústria do cinema e sim a dos sonhos.

O filme, que estreia na quinta-feira (31) em diversas salas do pais, ainda premiou o trabalho das atrizes Clarisse Abujamra, vencedora na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, Maria Ribeiro, que ficou com o prêmio de Melhor Atriz do Festival e Paulinho Vilhena, vencendo na categoria Melhor Ator.

Outro longa um tanto quanto inovador e incomum, também foi um dos vencedores nas categorias Melhor Desenho de Som, além de vencer pelo Júri Popular e o Prêmio Especial Troféu Kikito. Bio, falso-documentário do cineasta gaúcho Carlos Gerbase, foi umas das grandes surpresas da noite.

O cineasta Carlos Gerbase (foto: Nicolle Codorniz)

Questionado sobre a diferença do longa, Gerbase, explica sua percepção quanto ao filme.

– Ele é diferente porque tem a estética de um documentário, mas é um processo ficcional não tão diferente dos meus outros filmes. Eu tenho trabalho muito numa coisa chamada imaginação, que é a capacidade do ser humano sair de onde está e imaginar um outro lugar. Agora eu estou pedindo para que o público imagine. Fiz uma história para que o público imaginasse o protagonista, então eu terceirizei a imaginação.

Já o longa As Duas Irenes, do jovem diretor Fábio Meira, acabou levando para casa Kikitos importantes, entre eles o Melhor Longa pelo Júri da Crítica, Melhor Ator Coadjuvante para Marco Ricca, Melhor Direção de Arte, realizada por Fernanda Carlucci e ainda Melhor Roteiro.

Também antes da revelação dos vencedores, Meira foi questionado se estava com uma boa expectativa quanto ao anuncio dos vencedores.

– As expectativas já foram cumpridas. O que a gente veio fazer a gente fez, que era apresentar o filme às pessoas. A gente tá pronto para chegar nos cinemas no dia 14 de setembro. Saíram críticas incríveis. O filme tá na boca das pessoas e no coração de quem viu, pra mim isso é o mais importante.

Fábio Meira: ” O que a gente veio fazer a gente fez, que era apresentar o filme às pessoas. A gente tá pronto para chegar nos cinemas”  (foto: Nicolle Codorniz)

A noite de grandes homenagens, premiações e apresentações ainda reserva muita emoção

Com quase uma hora de atraso, a cerimônia do 45º Festival de Cinema de Gramado foi conduzida pelo trio de apresentadores Werner Schünemann, Marla Martins e Renata Boldrini. A noite iniciou com um número de dança, inspirado no filme Toda Nudez Será Castigada, de Arnaldo Jabor, vencedor da primeira edição do evento, em 1973.

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Quando Nando Cunha subiu ao palco para receber o prêmio de Melhor Ator em Curta Metragem pelo seu trabalho em Telentrega, do diretor Roberto Burd, não houve como não se emocionar com o artista, que completamente aos prantos, agradecia a oportunidade pelo trabalho e reconhecimento de seu gênero dramático.

– O filme nasceu de um desejo de eu querer mostrar outro trabalho. As pessoas só me conheciam pelo humor. Eu queria muito mostrar que não era só um ator de comédia. E eu queria muito provar que nós atores negros somos mais que atores negros. Somos atores comuns. E podemos fazer qualquer trabalho. Romeu, Hamlet, qualquer coisa. Somos atores. Somos artistas.

Nando Cunha recebendo o carinho do público em Gramado (foto: Nicolle Codorniz)

A atriz argentina Soledad Villamil, atriz do premiadíssimo O Segredos dos Seus Olhos e que na última quinta-feira (24) recebeu o Kikito de Cristal, homenagem dada para os grandes expoentes do cinema latino, fez três performances musicais, sempre roubando atenção do público que a ela observava com muita atenção.

Por falar em hermanos, quem levou o Kikito de Melhor Longa Estrangeiro, foi o argentino Sinfonía Para Aña, dos diretores Virna Molina e Ernesto Ardito. Pinamar, de Federico Godfrid, ganhou os prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator para Juan Grandinetti e Agustín Pardella.

Já no momento in memoriam, destinado a grandes artistas brasileiros que nos deixaram recentemente, destaque para as imagens de Domingos Montagner, que apareceu logo de início no telão, arrancando muitos aplausos dos espectadores.

A inesquecível Elke Maravilha, Nelson Xavier, que em 2010 atuou de forma magistral no filme biografia de Chico Xavier e Paulo Silvino, morto recentemente aos 78 anos, também comoveram a plateia.

Cerimônia marcada por visibilidade trans e manifestações contra o governo

Calí dos Anjos recebe Kikito de Marcos Santuário, curador do Festival (Diego Vara – / Pressphoto)

Calí dos Anjos, diretor trans pelo documentário Tailor, venceu o Prêmio 150 Anos Canadá Para Jovens Cineastas, além de vencer na categoria Melhor Direção em Documentário.

O júri escolheu como Melhor Filme o curta A Gis, de Thiago Carvalhaes, que também abordou os preconceitos relacionados ao universo das pessoas transgênero. Já O Quebra-Cabeças, de Allan Ribeiro, eleito o Melhor Curta pelo Júri da Crítica e vencedor do Prêmio Canal Brasil de Curtas, abordou a identidade sexual fora da norma socialmente aceita.

A cerimônia foi marcada por diversas manifestações contra o presidente Michel Temer. Cacá Diegues, renomado cineasta brasileiro, comentou o atual momento do país antes de entregar os principais prêmios da noite.

– Estamos vivendo um dos piores momentos do Brasil. Mas, mesmo assim, estamos vivendo o melhor momento do cinema brasileiro. Vamos tentar ser felizes porque temos o direito a isso e nossos filmes têm valor para isso.

Já Paulo Vilhena criticou abertamente o peemedebista e soltou o famoso grito de repúdio mais ouvido nos últimos meses.

– O cara que está representando a gente nos prejudicar, a gente até entende. A gente é adulto, crescido. Mas prejudicar nossos filhos e nossos netos, a gente precisa ter um pensamento e uma atitude. Fora Temer!

Confira abaixo a lista completa dos vencedores do 45º Festival de Cinema de Gramado:

Melhores filmes
Melhor longa-metragem brasileiro: Como Nossos Pais
Melhor longa-metragem estrangeiro: Sinfonía para Aña (Argentina)
Melhor curta-metragem: A Gis

Longas-metragens brasileiros
Melhor direção: Laís Bodanzky, Como Nossos Pais
Prêmio do júri popular: Bio
Prêmio troféu Cidade de Gramado: Paulo Betti e Eliane Giardini, A Fera na Selva
Prêmio especial troféu Kikito: Carlos Gerbase, Bio
Melhor do ano: Paulo Vilhena, Como Nossos Pais
Melhor atriz: Maria Ribeiro, Como Nossos Pais
Melhor roteiro: As Duas Irenes
Melhor fotografia: O Matador
Melhor montagem: Como Nossos Pais
Melhor direção de arte: As Duas Irenes
Melhor trilha musical: O Matador
Melhor ator coadjuvante: Marco Rica, As Duas Irenes
Melhor atriz coadjuvante: Clarisse Abujamra, Como Nossos Pais
Melhor desenho de som: Bio

Prêmio do júri da crítica
Melhor curta brasileiro: O Quebra-cabeça de Sara
Melhor longa-metragem estrangeiro: Pinamar (Argentina)
Melhor longa-metragem brasileiro: As Duas Irenes

Longas-metragens estrangeiro
Melhor fotografia: Sinfonía para Aña (Argentina)
Melhor atriz: Katerna D’Ofrio, La Ultima Tarde (Peru)
Melhor roteiro: La Ultima Tarde (Peru)
Prêmio especial do júri: Los Niños (Chile/Colômbia/Holanda/França)
Melhor ator: Juan Grandinetti e Augustín Pardella, Pinamar (Argentina)
Prêmio do júri popular: Mirando al Cielo (Uruguai)
Melhor direção: Federico Godfrid, Pinamar (Argentina)

Curtas-metragens brasileiros
Melhor desenho de som: Caminho dos Gigantes
Melhor trilha musical: O Violeiro Fantasma
Melhor direção de arte: O Violeiro Fantasma
Melhor montagem: A Gis
Melhor fotografia: Telentrega
Melhor roteiro: Postergados
Prêmio especial do júri: Cabelo Bom
Melhor atriz: Sofia Brandão, O Espírito do Bosque
Melhor ator: Nando Cunha, Telentrega
Prêmio do júri popular: A Gis
Melhor direção: Tailor
Prêmio Canal Brasil: O Quebra-cabeça de Sara
Prêmio Canadá 150: Tailor

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