Resenha | Brigth, original Netflix protagonizado por Will Smith

Luiz Paulo Teló

Com um custo de produção estimado em 90 milhões de dólares, Brigth talvez seja o projeto audiovisual mais ambicioso da Netflix. Mas não no sentido de tentar ser um dos grandes filmes da história do cinema. Longe disso. É ambicioso por se tratar de um típico blockbuster, estrelado por um ator do porte de Will Smith e dirigido pelo competente David Ayer (apesar de seu Esquadrão Suicida, de 2016).

O enredo de Brigth nos apresenta a um presente alternativo, em que humanos e criaturas fantásticas como orcs, fadas, elfos e centauros coexistem desde o início dos tempos. Em Los Angeles, o policial humano Daryl Ward (Will Smith) tem como parceiro Nick Jakoby (Joel Edgerton), o primeiro orc a integrar a polícia americana. Além dos problemas de aceitação que o novo policial não humano encontra dentro da corporação, a dupla se depara com uma ameaça mágica durante uma patrulha de rotina que faz com que a trama policial com elementos de fantasia finalmente ganhe ritmo.

Durante o período de divulgação, tanto o elenco como o diretore chegaram a dizer que Brigth é a mistura de Dia de Treinamento (2001, com roteiro do próprio David Ayer) e Senhor dos Anéis. Conceitualmente, é verdade. Mas em termos de verossimilhança, o roteiro de Max Landis não consegue costurar os dois estilos de forma satisfatória. É o roteiro o grande defeito do filme.

David Ayer faz uma direção correta, com ritmo, com cenas de ação bem filmadas, com clara intenção de estar filmando algo para a tela grande, e não pensando que se trata de um filme que não passará nos cinemas. A trama policial é boa, a química entre Smith e Edgerton convence e a caracterização dos orcs é impecável, um dos pontos a ser destacado em Brigth.

A experiencia, em si, agrada. O longa funciona como entretenimento momentâneo, mas o problema é quando passamos a camada superficial e começamos a pensar sobre o filme. O roteiro fala em uma grande guerra entre as raças, há dois mil anos, e de uma profecia que, em dado momento, parece ser duas. Fica confuso e mal explicado. Assim como a ameaça principal que os policiais Ward e Jakoby acabam enfrentando. Há uma trama envolvendo magia, elfos e a eminente possibilidade da volta de uma entidade que pode destruir o mundo. Mas o tamanho dessa gravidade passa longe de nos convencer, até porque, naquele mundo, aquilo não é verossímil.

O mundo de fantasia deixa furos. Há uma espécie de segregação entre as raças, que é compreensível e bem trabalhado em certa medida. O paralelo entre os clãs de orcs, sua marginalização, e a situação dos negros americanos é uma boa premissa, ainda mais da maneira que é feita com a dupla de protagonistas, com um policial negro e um orc. Mas, além disso, o roteiro fica devendo.

Aquele mundo é basicamente igual ao nosso, só que com outras raças que, em vários quesitos, tem mais habilidades e são mais fortes que os humanos. Em um momento, vemos ao horizonte um dragão voando. Que impacto uma dragão pode trazer a uma cidade? Algum, certamente. Mas em Brigth, nada parece realmente trazer um impacto significativo no mundo dos homens.

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