Resenha | Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Luiz Paulo Teló

Homecoming é o tradicional baile das escolas do ensino médio americano. Ele é um dos motivos para que o novo filme de Peter Parker, no Brasil traduzido como Homem-Aranha: De Volta ao Lar, se chame assim. O novo filme do Aranha é total clima de colegial. Mas o nome do longa é muito mais que isso. Agora inserido dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, o Cabeça de Teia está onde deveria estar há muito tempo. Ou pelo menos desde quando decidiram que era hora de fazer um reboot do personagem no cinema poucos anos depois do terceiro filme dirigido por Sam Raimi, em 2007.

A parceria entre Sony e Marvel Studios deu muito certo. Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que os fãs queriam ver. Isto implica algumas limitações à produção, é bem verdade. Mas, por outro lado, entrega um produto tão divertido, tão redondinho, que é capaz de despertar no fã do Amigão da Vizinhança uma sensação enorme de satisfação com a nova versão do personagem.

De Volta ao Lar não deixa de ser uma história de origem, mas não a do tipo que foi feita nas outras duas franquias que chegaram ao cinema, lançadas no período dos últimos 15 anos. Todo mundo já sabe que Peter Parker foi picado por uma aranha radioativa, que ele mora com a sua tia May (aqui vivida por Marisa Tomei) e que seu tio Ben morreu na mesma época em que ele conseguiu seus poderes. Não era preciso a Marvel, que já tem um universo cinematográfico em andamento desde 2008, contar tudo de novo para inserir o Aranha. Pula essa parte – e acerta em pular -, e coloca um jovem Peter, com 15 anos, aprendendo a ser o Homem-Aranha. Não deixa de ser uma história de origem.

Há grandes diferenciais em relação ao que se conhece do personagem neste novo filme que deram muito certo e ditam o tom Homem-Aranha: De Volta ao Lar. O primeiro deles é a inspiração nos filmes de John Hughes (Clube dos Cinco Curtindo a Vida Adoidado) para dar o clima de comédia adolescente que se passa no colegial. O segundo deles é a releitura dos personagens que orbitam Peter Parker. O terceiro, é onde se passa o filme, no Queens, parte baixa e residencial de Nova York. Aqui, de fato, o Aranha é o Amigão da Vizinhança, e não aparece voando entre grandes arranhas-céus.

Elenco etnicamente diverso em Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Tom Holland é uma grata surpresa. O jovem ator entrega um Parker convincente em seu nerdismo e em sua inabilidade social. A química entre ele e seu amigo Ned (Jacob Batalon) é sensacional, aperfeiçoando o senso de humor do filme. Mas talvez o maior destaque seja mesmo o vilão Abutre, vivido por Michael Keaton. Construir vilões tem sido um dos maiores problemas dos filmes da Marvel, e aqui a gente vê, sem dúvida, um dos melhores. Ele não é vilanesco apenas por ser, ele tem motivos para se tornar o antagonista, e isto é muito bem forjado, já no início do filme. Adrian Toomes, o Abutre, não quer dominar o mundo ou acabar com os Vingadores, ele só quer vender as suas armas e ganhar o seu dinheiro.

Mas Homem-Aranha: De Volta ao Lar tem seus problemas, aspectos que fazem que, mesmo sendo um filme com absoluto sucesso em alcançar aquilo que se propõem, ainda fica um degrau abaixo dos dois primeiros estrelados por Tobey Maguire – estes essenciais para que o gênero de super-herói se consolidasse no mercado de produção cinematográfica. Há dois pontos fundamentais aqui: primeiro, ele não é um filme de diretor. A direção é de Jon Watts e, convenhamos, poderia ser de qualquer outro diretor médio. O segundo é que ele é mais um filme dentro de uma grande linha temporal que já tem outras 14 produções. Isso diminui seu peso individual.

Mesmo com alguns anos de vantagens de tecnologia de efeitos especiais sobre os três filmes de Sam Raimi e os dois de Marc Webb, a maior parte do tempo, em De Volta ao Lar, o Homem-Aranha parece um boneco de vídeo game. Entendo que as outras duas franquias resolveram isso de uma forma que me incomodava muito menos. Assim, as cenas de ação acabam sofrendo um pouco com isso, não entregando nenhuma sequência muito marcante.

Acho que Marvel e Sony sabem exatamente o que queriam fazer, e fizeram. Embora haja problemas com o filme, eles ficam sem segundo plano. Homem-Aranha: De Volta ao Lar é divertido, acerta no tom da comédia e acerta na apresentação e construção dos personagens. E ao contrário do que se imaginava, os trailers não entregaram tudo. A trama guarda revelações impactantes. Ao fã do Teioso, é diversão garantida.

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