Dez romances que se passam em Porto Alegre

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Carlos Garcia

Mais um aniversário de Porto Alegre. Lá se vão 244 anos de história. As atividades culturais sempre estiveram presentes no cotidiano da cidade. A cena forte de hoje, que abrange diversas manifestações artísticas, é fruto da base fundamentada ao longo desses quase dois séculos e meio. Se a arte sempre esteve presente em Porto Alegre, Porto Alegre também sempre esteve presente na arte.

Na literatura, essa relação começou já no primeiro romance gaúcho. A divina pastora, de Caldre Fião, foi publicado em 1847 e tem como cenário uma Porto Alegre dos tempos da Revolução Farroupilha. No recente Outonos de Fogo, de Marcel Citro, é possível fazer uma viagem pelo tempo, desde o período que antecede a colonização e fundação da cidade até o final do século dezenove. Eventos marcantes, personagens ilustres, locais celebrados, principais costumes. A literatura ficcional registra com bastante fidelidade parte da história de Porto Alegre. Os dez livros listados a seguir proporcionam ao leitor uma viagem ao passado da cidade.

Estrychinina, de Paulino de Azurenha, Mário Totta e Souza Lobo (1897)

Estrychinina é um romance publicado em 1897 e escrito, curiosamente, a seis mãos. Paulino de Azurenha, Mário Totta e Souza Lobo dividem a autoria dessa pequena pérola da literatura. E o seu maior valor não é pela história em si, mas justamente por retratar a Porto Alegre da época. Na leitura, pode-se visualizar, por exemplo, o casario da Riachuelo, o comércio da Rua da Praia e da Sete de Setembro e as festas que aconteciam na Praça da Alfândega e no Menino Deus. O melhor registro está na cena do passeio de bonde. Os personagens saíram da Rua da Praia em direção ao Menino Deus e, no trajeto, o narrador foi esmiuçando o ambiente pelo qual o comboio passava. É uma ótima oportunidade para o leitor pegar uma carona e dar um passeio na cidade em 1897.

 Os ratos, de Dyonélio Machado (1937)

Os Ratos, de Dyonélio Machada, é um dos maiores clássico da nossa literatura. Conta a história de Naziazeno, um pobre funcionário público que sai em busca de dinheiro para pagar sua dívida e não deixar a família sem leite. Trata-se de um manisfesto claro contra a selvageria do capitalismo. E também um registro da Porto Alegre da época. Nessa busca pelo dinheiro, Naziazeno perambula um dia inteiro pelo centro, oferecendo ao leitor uma boa pintura da cidade nos anos 1930.

Cães da província, de Luiz Antônio de Assis Brasil (1988)

Cães da província, de Luiz Antônio de Assis Brasil, reúne diversos ícones de Porto Alegre. Pode-se dizer que é uma biografia ficcional do famoso escritor José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo (1829-1883), tido, no seu tempo, como um maluco. O autor vale-se do período histórico e resgata também os crimes da Rua do Arvoredo, que abalaram a pequena população da cidade em 1864. A narrativa proporciona, em especial durante as andanças de Qorpo-Santo, um retrato excelente de Porto Alegre no período.

Tragédia da Rua da Praia, de Rafael Guimaraens (2009)

Em 1911, um quarteto de estrangeiros chegou em Porto Alegre, assaltou uma casa de câmbio e matou o jovem funcionário. A polícia saiu em perseguição, em uma cena jamais vista antes na então pacata cidade. Tudo foi registrado e virou um dos primeiros filmes produzidos no Rio Grande do Sul. O episódio foi real, mas, no livro, Rafael Guimaraens conta de forma romanceada como tudo aconteceu. É quase um guia das figuras históricas da cidade na época. O leitor tem a oportunidade de encontrar nomes como Carlos Cavaco, Mário Cinco Paus e Eduardo Hirtz, mas, sobretudo, visualizar o cenário da Porto Alegre de 1911.

Divina pastora, de Caldre Fião (1847)

É o mais antigo romance da história do Rio Grande do Sul. Também é o segundo mais antigo do Brasil. Embora não tenha sido escrito e publicado aqui, é a primeira ficção escrita por um gaúcho e que tem o gaúcho como tema. A história se passa toda em Porto Alegre e arredores, durante a Revolução Farroupilha. Na narrativa, o autor destaca o centro e o Belém, dando uma ideia para o leitor de como era a cidade por volta de 1840.

Outonos de fogo, de Marcel Citro (2013)

Desde o século 15, no território onde hoje é Porto Alegre, o mesmo sangue corre pelas veias de figuras que participaram da construção da história da cidade. O romance entrelaça o período em que a região era habitada apenas por índios aos dias da Revolução Federalista (1893-1895). Entre essas duas pontas foram compreendidos momentos cruciais do passado do Rio Grande do Sul, como a chegada dos portugueses (séculos 16 e 17), as guerras com os espanhóis (século 18) e a Revolução Farroupilha (1835-1845). Uma viagem longa e importante para entender o passado de Porto Alegre.

A segunda pátria, de Miguel Sanches Neto (2015)

Porto Alegre vista por quem é de fora. No romance A segunda pátria, o paranaense Miguel Sanches Neto utiliza como cenário a capital gaúcha em 1938. A história fala de um possível domínio nazista sobre o Brasil na época. E Porto Alegre seria palco da cerimônia em que Vargas e Hitler firmariam parceria. No trecho em a cidade aparece, é possível visitar o Hotel Majestic, a Casa Massom, o Chalé da Praça XV no tempo em que era só um quiosque de sorvete e a Praça da Matriz ladeada pelo antigo auditório Araújo Viana. Tudo em detalhes. O autor ainda brinda o leitor com um passeio pelos lendários túneis secretos da cidade. (Leia a nossa resenha aqui)

Segundo tempo, de Michel Laub (2006)

Não faz tanto tempo assim. Foi em 1989. A história de Michel Laub trás o drama de um menino que vê a estrutura familiar se dissolver e tenta proteger o irmão mais jovem. Isso tendo como pano de fundo o histórico Gre-nal do Século e todo o panorama porto-alegrense da época. Embora se trate de uma história mais psicológica, o cenário está bastante presente e com ele todo o clima, costumes, cotidiano e notícias da Porto Alegre de 1989.

 Guerra no Bom Fim, de Moacyr Scliar (1972)

No seu primeiro romance, Moacyr Scliar mistura fantasia e realidade para contar a história de um menino judeu que vivia em Porto Alegre no tempo da Segunda Guerra. O cenário é um Bonfim retratado com nem tanta fidelidade ao Bonfim real. Ainda assim, é uma pintura magnífica do bairro, com referências, aí sim verdadeiras, ao velho arrabalde dos judeus de Porto Alegre. Os voluntários é outro romance de Scliar que se pode visualizar a capital gaúcha do passado.

Clarissa, de Erico Verissimo (1933)

Clarissa é o primeiro romance de Erico. Está inserido na fase da carreira do autor chamada de romances urbanos, justamente narrativas ambientadas, na maioria, em Porto Alegre. Embora a personagem principal passe a maior parte da história dentro de casa, no romance é possível conhecer bastante dos costumes da cidade na época. E, claro, no trecho em que Clarissa passeia pelo miolo do centro com a tia, tem-se uma boa ideia do cenário urbano da época.

carlos

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