Fabrício Silveira
Lançado em dezembro de 2016, Pequena Madrugada Antes da Meia-Noite, do poeta Marco de Menezes, nascido em Uruguaiana e residente em Caxias do Sul, é um dos livros de poesia mais impactantes que li nos últimos tempos. Fiquei impressionado com a densidade poética dos textos, o modo frontal e corajoso como o poeta elabora, no verso, suas relações pessoais, as relações de amizade, a memória familiar, o cotidiano de Caxias e de Porto Alegre.
Vale dizer ainda que o verso, no caso, é um “controverso”, um “des-verso” ou algo assim, desconstruído que está no espaço da página, soltando-se, às vezes, correndo só, oscilando na extensão e no formato, tornando-se prosa, eventualmente, deixando-se atravessar por distintos regimes de linguagem, da mais coloquial à fala culta, passando pelos estrangeirismos, a reticência, a repetição e a rima podre. Chamou minha atenção também o universo de referências utilizadas: a cultura do pampa, a marca publicitária e a música pop, aqui e ali, acentuando a terra devastada que o livro traduz com excelência.
Após ter recebido o Prêmio Açorianos de Literatura – Poesia e Livro do Ano –, em 2010, com o Fim das Coisas Velhas, um de seus livros anteriores, Marco de Menezes retorna com um texto igualmente forte e consistente, consolidando-se como um dos expoentes da poesia no Rio Grande do Sul. O livro é um alento num ano de crise e desmantelamento da cultura no Estado. É para ser lido e relido em 2017.
Fica, para concluir, uma palhinha, uma breve ilustração:
“No último dia do ano
furei com prego um dos pés
pra aprender como se manca
o ano seguinte inteiro” (p.39).

De MENEZES, Marco. Pequena Madrugada Antes da Meia-Noite. Porto Alegre – RS: Modelo de Nuvem, 2016, 104p.
FABRÍCIO SILVEIRA
Jornalista e doutor em Comunicação. É professor na Unisinos. Autor dos livros Grafite Expandido (Porto Alegre: Modelo Nuvem, 2012), Rupturas Instáveis. Entrar e sair da música pop (Porto Alegre: Libretos, 2013) e Guerra Sensorial – Música pop e cultura underground em Manchester (Porto Alegre: Modelo Nuvem, 2015), sobre sua experiência de pós-doutorado na Inglaterra, quando investigou a cena musical local.