Michel Houellebecq em Porto Alegre, com polêmica e ironia

Michel Houellebecq em Porto Alegre, no Fronteiras do Pensamento (foto: Luiz Munhoz)

Michel Houellebecq em Porto Alegre, no Fronteiras do Pensamento (foto: Luiz Munhoz)

Carlos Garcia

Michel Houellebecq é o maior escritor francês contemporâneo e um dos mais importantes do planeta na atualidade. Na literatura, é bastante conhecido pelo seu humor ácido e, fora dela, pelas suas ideias sempre polêmicas. No seu discurso no Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre, dia 7, foi o que é. Mostrou exatamente a face pela qual é mais conhecido: a ironia e a crítica.

Embora tenha atingido o sucesso com o romance Partículas Elementares, de 1998, dá para dizer que tornou-se quase uma celebridade internacional com o seu mais recente livro Submissão, de 2015. Acabou associado aos atentados terroristas de Paris. Além de criticar o islamismo na narrativa, talvez coincidentemente, as explosões aconteceram no mesmo dia para o qual estava marcado o lançamento do livro. E ainda no mesmo dia em que circularia a edição da revista Charlie Hebdo na qual a capa era dedicada ao escritor.

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Com o episódio, a imprensa elevou Houellebecq ao posto de especialista no mundo islâmico. Nas entrevistas, sua opinião sobre a religião de Maomé era tratada com mais importância do que os aspectos literários do seu trabalho. Talvez por isso, o público de Porto Alegre esperasse um discurso mais voltado para a questão do terrorismo. Claro que ele abordou o tema em alguns pontos específicos da sua fala. Mas o seu discurso estava voltado para outro lado. ‘Os intelectuais da França do início do século vinte um’ foi sobre o que debruçou sua análise, mostrando que não existe uma decadência no pensamento francês.

Além dele mesmo, incluiu no seleto grupo os escritores Maurice Dantec e Phillippe Muray. Defendeu que o pensamento francês não pode mais ser encontrado na filosofia, mas na literatura, em especial no trabalho desses três autores. Mais que compor a elite intelectual francesa, Houellebecq, Dantec e Muray romperam as amarras com a esquerda. Houellebecq garantiu que não se trata de uma aproximação com a direita, longe disso. Mas uma libertação, já que, até então, os intelectuais, ao menos desde 1945, sempre estiveram presos nas mesmas ideias. Por serem mais artistas do que grandes pensadores é que conseguiram atingir essa liberdade. Exemplificou com a geração de Sartre e a geração de Foucault, que tiveram sempre o pensamento ligado à ideologia. O escritor aproveitou o momento para alfinetar esses intelectuais conterrâneos.

Sobre a questão islâmica, se mostrou mais otimista que em seu livro. Disse que, assim como o período de terror durante a Revolução Francesa acabou, os extremistas islâmicos se cansarão em algum momento. “Não sabemos bem por que o terror acabou em 1793. Não sabemos por que uma era trágica termina. Há momentos, na história humana, que nenhuma teoria pode dar conta. Acredito que o desejo de carnificina termina, mesmo que sem explicação”.

Após o discurso, quando o evento foi aberto para perguntas do público, Houellebecq foi convidado a dar sua opinião sobre o Prêmio Nobel de Literatura oferecido a Bob Dylan. “Para ser honesto, preferia Lou Reed. É um pouco normal que o Nobel homenageie o rock, porque é a forma artística mais brilhante do século XX. Não é ruim, foi bom dar o prêmio a um letrista”.

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