Oly Jr. | Música e Educação

Oly Jr.

Fala-se muito no meio acadêmico, mais especificamente no curso de Licenciatura em Música do IPA, sobre o papel da música no ensino formal, e em espaços não escolares. Por vezes acontecem debates tão acalorados quanto profundos. E o objetivo, às vezes meio embaçado por conta de cacoetes sociais e preconceitos estéticos, muito por conta da falta de conhecimento sobre as vicissitudes da educação musical, mas ainda assim objetivos, é fazer com que a música seja um elemento tão importante quanto a matemática e o português, por exemplo. Nem mais, nem menos importante que qualquer outra disciplina dos ensinos fundamental e médio, e encarado como parte indispensável na formação do ser humano.

A peleia é grande, por vezes ingrata, mas é um estado de resistência e ideal a ser exercitado incessantemente, enquanto a razão, o mínimo de força física, destreza intelectual, e disposição nos permitirem, mas acima de tudo, manter a fé na música. Mas não somente na música enquanto conceito tradicional, de ritmo, melodia e harmonias, e sim, na música enquanto som, enquanto aspecto físico, emocional, intencional, instintivo, espontâneo e etc e tal.

Não gostaria de escrever um texto para colegas e professores, com terminologias e temáticas particulares da área musical. Gostaria de me fazer entender pra qualquer cidadão que saiba ler essas linhas, e que lendo consiga notar uma pulsação, ou sons aleatórios, e por um momento pensar que não haveria vida no sentido filosófico e metafísico sem essa absorção sonora. Ou pelo menos não haveria uma evolução humana sem uma contemplação musical.

Pode parecer elementar pra uns, mas tenho certeza que é totalmente banal pra uma gama de gente que “vê” a música como mero entretenimento.  Até pra alguns intelectuais, a música é entendida como fator cultural importante, mas coadjuvante. Hoje em dia eu entendo a música como som e silêncio constante na existência humana. Portanto, digna de matéria essencial para o desenvolvimento de um vivente. Mas sabemos bem que esse não é o entendimento do senso comum. Que dirá político. E a grande missão que muitos colegas estão matando no peito, estimulados, reeducados, e instruídos por professores de conhecimento empírico, letrado e científico na área musical, dispostos a tentar, pelo menos, formar professores com um entendimento amplo de que ser professor de música é muito mais do que ensinar a notação musical.

Acredito piamente que a educação brasileira dará um salto brutal, quando entendermos, enquanto sociedade, que assim como a escola, e o professor de matemática não tem a pretensão, tampouco planeja formar matemáticos, assim como não é o objetivo do professor de português formar um expert gramatical, e um professor de física formar físicos, o professor e a música nas escolas, e em outros ambientes co-educacionais, não tem como função formar músicos. A função primordial não é formar cidadãos para a música, e sim, formar cidadãos pela música, também. Organizando as possibilidades sonoras de uma existência, a fim de estimular uma construção do sujeito, do senso crítico, da produção de conhecimentos gerais, individual, coletivo, desenvolvimento da autenticidade, da criatividade, enfim, ajudando a preparar indivíduos para a sociedade.

Termino esse texto lembrando com emoção da minha primeira experiência como mero professor de música, na periferia de Porto Alegre, numa ONG da Lomba do Pinheiro chamada IPDAE [Instituto Popular de Arte e Educação] , onde além de dar aulas, por vezes eu freqüentava a casa dos alunos, em situação precária de moradia, segurança e saneamento básico, onde alguns diziam: “se não fosse a merenda da escola e a música, minha vida tava perdida”.

OLY JR.
Músico/compositor auto-didata, atuante desde 1998 e ganhador de 4 Prêmios Açorianos de Música. É o autor da fusão “Milonga Blues”, misturando a milonga latino-americana com o blues norte-americano. Atualmente, além da carreira como músico, é estudante de curso de Música do IPA.

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