Um show do Poison Idea em Manchester

Foto:  Michael Goddard.

Os norte-americanos do Poison Idea tocando em Manschester na última segunda-feira, 11 de maio. Foto: Michael Goddard.

Fabrício Silveira

Quando cheguei, por volta das 19h, não havia mais do que trinta velhos punks, reunidos em pequenos grupos, ao redor das mesas, nas proximidades do balcão, no térreo do Star & Garter. O local é um pub antigo, numa esquina retirada de Fairfield Street, há alguns minutos do centro de Manchester. É um casarão com vários cômodos interligados, várias janelas amplas e um piso irregular. Numa das peças, dois sofás gastos e empoeirados. Noutra, uma mesa de sinuca, máquinas de jogos eletrônicos, jukeboxes desligadas. Há diversos pôsteres espalhados, colados nas paredes. Há mofo e pinturas descascadas. No andar de baixo, assim que entramos, o bar. No andar de cima, o palco.

Passo a reparar nas camisetas que todos vestem ao meu redor: Sick of it All, Motorhead, Anti-Nowhere League, Discharge, Anti-Cimex, Revenge of the Psycothronic Man. Na grande maioria, são homens de meia idade. É alta a concentração de testosterona no ambiente: calvície, barbas por fazer e barrigas de cerveja. São os punks originais, nascidos, provavelmente, na década de 1960. Penso que muitos deles estão vestidos, nesta ocasião, como se vestiam quando tinham quinze, dezoito anos.

Havia no ar uma atmosfera de confraternização. Os norte-americanos do Poison Idea, notórios por protagonizarem as performances mais “in-your-face” do underground mundial, chegavam à Manchester no curso da turnê européia de lançamento do novo álbum, Confuse & Conquer (Southern Lord, 2015).

E foi um set intenso como poucos, de cerca de uma hora, com músicas rapidíssimas, curtas e pesadas. Sobrava aceleração. Sobrava deboche e álcool na platéia. Jerry A., o vocalista da banda, único integrante original, incitava ao pogo, à pilhéria e ao mosh pit. Era impressionante o modo como gritava, suando às bicas, enquanto se movimentava pelo palco, contorcendo-se, como se estivesse desconfortável, amarrado à própria roupa. Os intervalos, entre uma música e outra, eram para rir e respirar.

No repertório, além de Hangover heart attack, um hino prontamente reconhecido, uma homenagem a Manchester, Shot by both sides, uma canção dos Buzzcocks, interpretada com genuína fúria niilista e proletária.

Ao final, noite ganha. Entrega completa. Completa comunhão com a audiência. Ontem (14/05), três dias depois, na continuidade da turnê, Jerry A. desculpou-se junto aos fãs, através do Facebook, por haver perdido a voz, rompido as cordas vocais, na metade do espetáculo da noite anterior, em Bristol.

Fabricio

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