Zaz e o beija-flor

Cantora francesa esteve na capital gaúcha em 19 de março. Foto: divulgação

Cantora francesa esteve na capital gaúcha em 19 de março. Foto: divulgação

Carlos Garcia

Os primeiros instantes do show da cantora francesa Zaz, em Porto Alegre, foram tensos. Parecia que aquele vozeirão rouco ia falhar a qualquer momento. Não falhou nunca. E seu timbre que já é encantador no disco foi ainda mais encantador na apresentação ao vivo.

Je veux, que é a música mais conhecida dela, levantou a plateia. O pessoal mostrou que conhece, sim, o idioma de Dumas e Zidane e cantou junto o refrão numa versão bem mais pegada que a original. Mas o ponto alto da noite foi outro. Nenhuma música da própria Zaz seria capaz de incendiar o Araújo Viana. E ela sabia disso. Por isso, mesmo sem falar português, fez questão de incluir na apresentação uma música brasileira. E a galera foi ao delírio quando ela começou a cantar Samba em Prelúdio. É. Vinícius de Moraes e Baden Powel. O sotaque e a dificuldade de pronúncia não foram problemas. Todos ajudaram a cantar. E alguns casais arriscaram até uns pacinhos a dois.

Outra música que animou o público foi Les Passants. Todos levantaram para dançar, cada um do seu jeito, e com um refrão fácil, gritavam em coro passe, passe, passera, la dernière restera. Passa, passa, passará, o último ficará.

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Isabelle Goeffey é o verdadeiro nome da Zaz. A francesa nasceu na cidade de Tours, onde iniciou os estudos de música com apenas cinco anos. Não sei se já dava para ter uma ideia se ela seria boa, mas foi persistente nas aulas. Tanto que seguiu estudando, mesmo depois de ir morar com a mãe em Bordeaux. E aí, provou, sim, que poderia realizar seu sonho e ser cantora. Na cidade famosa pelos bons vinhos, Zaz mostrou que era de boa safra. Começou cantando em um conjunto de blues, depois em um quinteto de jazz, em uma orquestra e uma banda de rock.

Quando Bordeaux já estava pequena demais para ela, se mandou para Paris. Na Cidade Luz, bem, na Cidade Luz, ainda que pareça, a vida não é tão fácil. Com seu talento pouco reconhecido nos bares, Zaz foi tentar a sorte na rua. E deu certo. Foi se apresentando nas pequenas vias de Montmartre que ela conseguiu se estabelecer de vez em Paris. Nisso estava cantando também em um grupo de rap e, daí, foi um pulo para se aventurar na carreira solo. Consequentemente veio o primeiro álbum, que vendeu para lá de um milhão e trezentas mil cópias na França, Bélgica e Alemanha.

Em 2013, gravou o segundo álbum, chamado Recto Verso. Não superou expectativas. Com musicas pop, ainda que sem perder totalmente a referencia do jazz manouche e chanson francesa, vendeu bem menos que o primeiro. O maior sucesso foi a música On Ira. No final do ano passado, lançou mais um álbum, aí sim, a altura da sua voz. Paris. Uma homenagem a cidade da Torre Eiffel, o disco resgata clássicos da música francesa, principalmente da década de quarenta. Uma pérola!

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A apresentação no Araújo Viana deveria ser, pensei, para promover o disco Paris, em especial. Não foi. Zaz preferiu mostrar um pouco mais dos dois primeiros discos e não os covers de Paris, valorizando-se, claro, como compositora. O Show foi dividido em três partes. A primeira, que deveria ser boa para conquistar o público, foi a mais fraca. Com suas músicas mais pop, não animou muito. Pareceu até que o pessoal ficou um pouco desconfortável por ela chamar para pular em músicas muito lentas. Lá pelas tantas ela deixou o palco e banda mandou ver num jazzinho pegado.

Quando ela voltou para a segunda parte, era outro show. Muito melhor. Aí sim vieram algumas músicas do disco Paris e outras interpretações de jazz. Nisso o público já estava bem mais para cima. Foi aí que veio o Samba em Prelúdio, fechando muito bem essa segunda parte. A banda executou mais um jazz instrumental dos bons. Destaque para o saxofonista e seus solos. E, na parte final, Zaz voltou a cantar as músicas do primeiro e segundo discos. Mas dessa vez eram as melhores. Além de Je Veux e Le Passantas, mandou bem em Prends Garde à ta Langue e Comme Ci Comme Ça. Um grande espetáculo!

O ponto negativo foi a equalização do baixo. Estava muito grave, estourado. E olha que gosto de baixo bem grave. Não sei se era problema na aparelhagem ou se a ideia do baixista era essa mesmo. Mas não ficou legal.

A apresentação chegou ao final sem que a voz da Zaz tenha falhado. Que alívio! Ela ainda fez o favor de se esforçar para ler em português a famosa história do beija-flor no incêndio da floresta. Valeu!

carlos

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