Beto Bruno e o perigo do Rubber Soul

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O vocalista da Cachorro Grande conversou conosco sobre a importância do álbum Rubber Soul, dos Beatles. A matéria especial sobre os 50 anos do lançamento do disco, você confere aqui. Na sequência, o papo que levamos com Beto Bruno, que contou como esse trabalho do quarteto britânico mudou sua vida.

Culturíssima: Passados 50 anos, você considera o Rubber Soul um álbum atual?

Beto Bruno: Com certeza e mais do que isso, muitos falam que a grande ruptura dos Beatles para a música com a tonalidade mais artística e com ideias mais modernas seria o Revolver, mas não existiria o Revolver sem as experimentações do Rubber Soul. Então todo mundo fala que há uma lacuna incrível do ieieiê a partir do Revolver não é mais, mas eu acho que não existe essa lacuna. O Rubber Soul está ali no meio e foi tão importante quanto o Revolver para chegarem no [Sgt] Peppers, que é o auge musical, não só dos Beatles, mas da música pop.

O disco seria uma transição suave?

Justamente, mas eu já não acho suave, eu acho brutal. Eu não conheço uma banda que não tenha influência direta. Depois do Rubber Soul todas as bandas começaram a usar fita por causa de Norwegian Wood, todas começaram a usar o pedal fuzz no baixo, tipo o Aftermath, dos Stones, inteiro o Bill Wyman está usando o pedal de fuzz. Tipo, o Paul usou em uma faixa só do disco, sabe?, revolucionou as técnicas de gravação, de overdub, sabe?, ele não é um disco do ieieiê, ele é, eu acho, o disco mais moderno de 1965 por isso que 50 anos depois ele continua sendo tão quanto.

Qual a importância do Rubber Soul para a o rock?

A música deixa de ser um ritmo, no caso o rock, deixa de ser só um ritmo, um entretenimento, e se torna, a partir daí, cada dia, o que vem a ser lançado se torna um obra de arte. A partir da capa, que foi a primeira que eles ajudaram a conceber, saca?, eles fizeram todo o layout, o design, junto com o fotógrafo, que eu acho que é o Robert Freeman. Ele é o primeiro disco com alusão à drogas na história, e o que que foi a segunda parte dos anos sessenta?, o flower power?, tudo sobre o LSD e a maconha?, e esse é o disco que deixa bem claro que eles estão usando porque as letras já estão ficando surreais, Girl, Norwegian Wood, sabe, eles não estão falando mais ela te ama, quero pegar na sua mão… foi um disco chocante, para todas as bandas do mundo e para o mercado também, que estava se adequando. Ele foi um dos primeiros álbuns que as pessoas começaram a dar mais importância para um álbum do que para um single em primeiro lugar. Só não esquece de um lance, velhinho, os dois singles que foram lançados juntos com o álbum, que é Day tripper e We can work it out. São duas obras primas. E eles tinham um calor com os fãs tão grande, que eles não lançavam dentro do álbum os singles, do mesmo jeito que Penny lane não estão no [Sgt] Peppers, Paperback writer, Revolver. Day tripper e We can can work it out são os compactos do Rubber Soul, são duas músicas nota dez. Day Tripper foi uma das primeiras vezes junto com Satisfaction, inclusive no mesmo mês, onde se desenvolve um riff de guitarra que não fosse tradicional do rock and roll, que é aquelas coisas do Chuck Berry. No Day tripper eles já mostram o que é os anos 70, o que viria a ser, que todas as bandas fizeram som em cima de riff, Led Zeppelin, Humble Pie. Jimmy Hendrix ficou apavorado quando saiu Day tripper. Tem gravações na BBC tocando Day tripper.

De que forma o Rubber Soul influenciou sua carreira e o som da Cachorro Grande?

A gente poderia dizer não só do Rubber Soul, aí eu vou ter que ser mais abrangente, com a carreira inteira dos Beatles. É por causa dos Beatles que eu toco numa banda de rock, sabe?. Quando o meu pai me mostrou a coleção dos Beatles, eu já tinha decidido ali que eu ia tocar numa banda e parei de estudar. Então isso pode mudar a cabeça da pessoa. RUBBER SOUL É PERIGOSO.

Lembra do primeiro contato com o Rubber Soul?

Meu pai me deu [o disco] A Hard Day’s Night aos 8. Até entre uns 8 e 10 anos, ele foi me soltando os outros de pouco em pouco. O Rubber Soul foi o quarto disco que chegou na minha mão. Era uma edição nacional da época já em stéreo. Era muito raro porque na época, no Brasil, a maioria dos discos dos Beatles vinham em mono e o pai tinha stéreo. Ele tem uma boa coleção. Ele me chapou desde a primeira vez. Os Beatles nunca foram tão banda quanto no Rubber Soul. A parir daí, que é o Revolver, começa a ser dito mais as características de cada um, que diria a carreira solo e tal. O último disco deles como banda mesmo, que os quatro sentaram para fazer todas as músicas, foi o Rubber Soul. Então ele é o maior exemplo de como uma banda tem que funcionar dentro de um estúdio.

Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre o disco?

Sim. Se eu pudesse, eu sairia com esse disco pendurado no pescoço, como eu fazia nos meus últimos dias de escola. Se eu pudesse, eu andaria com ele para cima e para baixo e eu acho que é isso que eu vou fazer agora quando eu desligar o telefone.

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