Perfil: Cambada Levanta FavelA

Vinícius de Macedo Berghahn

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Foto: Divulgação / Blog Levanta FavelA

 

A Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA é um dos movimentos independentes frutos da reunião de várias pessoas com insatisfações comuns e vontade de mudar o mundo. Tendo o teatro como canal de expressão, o grupo produz incansavelmente, aproveitando todas oportunidades para ser ouvido e, claro, com a entrega que somente a paixão pela arte e a vontade de mudar é capaz de fazer brotar.

A primeira montagem do Levanta FavelA foi uma intervenção cênica em 2008 para lembrar os 12 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, uma chacina cometida contra os sem-terra pela Polícia Militar do Pará, em 1996, por excesso de força durante a repressão de uma manifestação. Os comandantes do batalhão que realizou a ação foram punidos em 2012. Mesmo assim a performance é repetida anualmente para que o fato não caia no esquecimento.

Muito preocupado em alertar para os problemas da sociedade mas também em ensinar, o Levanta FavelA criou logo no início de sua trajetória a Oficina de Teatro em Ação Direta. Em funcionamento até hoje, a iniciativa é de livre acesso, possibilitando a expressão através do teatro sem exigir experiência prévia ou contribuição financeira de seus participantes. Uma das intervenções montadas pela Oficina mantém vivos todos os massacres do Pará, da guerrilha do Araguaia até Carajás. Intitulada O Canto da Terra, a performance lembra fatos tristes para que os mesmos erros não se repitam.

Em Janeiro de 2009, o Levanta FavelA, investiu o recurso de seus próprios integrantes para alugar uma sala no Centro Cultural Companhia de Arte. Ali começou a ser trabalhado o espetáculo Árvore em Fogo baseado na vida e na obra do dramaturgo Bertolt Brecht, que estrearia em Dezembro daquele ano.

No ano seguinte, foi desenvolvido o primeiro espetáculo de sala, ou seja, interpretado fora das ruas. Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas“, uma livre adaptação do texto de Heiner Müller, estreou dia 13 de dezembro no Clube de Cultura. A peça trata da violência contra a mulher e as formas de dominação masculina a partir da história de Medeia, que mata os próprios filhos para se vingar da traição do marido.

Em 2011, no mesmo 13 de dezembro, o Levanta FavelA estreia Futebol, nossa Paixão: pra falar sobre política, futebol e religião!. A peça de rua baseada no texto Corinthians, meu amor, de César Vieira, conta a história de moradores de uma favela que têm suas vidas mudadas diante da expectativa pela Copa do Mundo, que traz mudanças tanto para o país quanto para cidade. Representando todo o povo brasileiro, os personagens deparam-se com as agruras das injustiças sociais na tentativa de assistir a grande final do mundial de futebol.

Performance em Porto Alegre, no evento alternativo Fan Protest, em junho de 2014, durante a Copa do Mundo. Foto: Gabriela Féres / Jornalismo B

Performance em Porto Alegre, no evento alternativo Fan Protest, em junho de 2014, durante a Copa do Mundo. Foto: Gabriela Féres / Jornalismo B

Duas oficinas do Levanta FavelA ganham espaço em 2012. A mais antiga delas, Oficina de Teatro em Ação Direta passa a trabalhar na Casa de Cultura Mario Quintana em fevereiro, enquanto a Oficina de Teatro para o Avanço Popular é selecionada em junho para ocupar a sala 505 da Usina do Gasômetro. No mesmo mês a Cambada participa da programação de cultura da Cúpula dos Povos na Rio + 20 no Rio de Janeiro, encenando o espetáculo sobre Futebol na Vila Autódromo e no Aterro do Flamengo.

É na mesma Usina em que encena suas palestras que em setembro o grupo realiza o ciclo de Cinema e Debate Memória, Verdade e Justiça, tendo como debatedores participantes da Comissão Estadual da Verdade, professores, advogados e do uruguaio Jorge Zabalza, ex-integrante do movimento guerrilheiro Tupamaro. Outro revolucionário lembrado pela Cambada foi Carlos Marighella, lembrado em dezembro com a exibição de um documentário sobre sua vida feito pela própria sobrinha dele.

Em abril de 2013 o Levanta FavelA estreia Tebas ou a Trilogia Tebana. O novo espetáculo de vivência, modelo que convida o espectador a acompanhar a peça caminhando, narra a trilogia tebana do Édipo Rei, escrita por Sófocles. Assim, o grupo discute o poder, a verdade e a justiça, fazendo refletir sobre a história recente do Brasil, seus governantes e as formas de governo.

Em mais um mítico 13 de dezembro, o grupo estreou A belíssima fábula de Xuá-xuá: a fêmea pré-humana que descobriu o Teatro. A partir do texto homônimo de Augusto Boal, a Cambada encenou esta antiga fábula chinesa para contar a origem do teatro e lembrar da importância dessa manifestação cultural. Xuá-xuá, a mulher que descobriu o teatro ainda na pré-história, passou pelo “teatro do crime”, “da mentira” e por diversas formas de representação até chegar ao teatro “mais arcaico”.

Atualmente o Levanta FavelA encena o clássico Beijo no Asfalto de Nelson Rodrigues, também em forma de teatro de vivência e que estreou também no dia 13 de dezembro. No palco, a história de um beijo na boca entre homens desconhecidos no momento da morte de um deles e a repercussão do fato na mídia e na sociedade.

Mantendo-se incansavelmente ativo, o Levanta FavelA esteve ao longo de seus sete anos de existência levando o teatro militante pelos quatro cantos do Brasil e também em viagens internacionais. A atuação local e a participação em festivais independentes revela uma disposição da Cambada na batalha por mudanças, na busca por experiência, no empenho em levar sua identidade para outros povos e regiões e, principalmente, na atitude de pensar e agir diferente. Mesmo com muito ainda por fazer, para eles, isso não é mais um sonho.

Para saber mais acesse o blog do Levanta FavelA 

 

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