Entrevista | Um papo com Karina Ramil, integrante do Porta dos Fundos

Karina Ramil_entrevista_porta dos fundos

Luiz Paulo Teló

Desde abril deste ano, ela faz parte do elenco fixo do coletivo de humor Porta dos Fundos. Formada na faculdade de Artes Cênicas do Rio de Janeiro, Karina Ramil é carioca, mas o sobrenome inevitavelmente denuncia a sua ligação com o Rio Grande do Sul, mais precisamente com a cidade de Pelotas. A atriz é filha de Kleiton, da longeva dupla de sucesso com Kledir.

Para usar um ditado popular: a fruta não cai longe do pé. Embora tenha estudado alguns instrumentos, Karina decidiu que seu caminho não era dentro do universo musical dos Ramil, embora frequentasse esse meio e se influenciasse dele. “Já vivi muitos momentos que todos estavam reunidos batucando, cantando, dançando ou algo do tipo. Tenho certeza que isso me influenciou e influencia até agora”, nos contou.

Nos últimos dias, conversamos por e-mail com Karina. Ela nos contou sobre sua carreira como atriz, falou da relação da sua família com as artes e como ingressou em um dos maiores canais de humor no Youtube do mundo. Atualmente, o Porta dos Fundos tem 12,8 milhões de inscritos e seus vídeos já ultrapassaram a marca de 2,5 bilhões de visualizações, em três anos de existência.

Culturíssima: Como aconteceu de participar de alguns vídeos do Porta dos Fundos e depois ser efetivada no grupo? Imaginava que isto poderia acontecer?

Karina Ramil: Eu li nas redes sociais que eles estavam procurando atores novos. Enviei meu material e fui chamada para o primeiro teste. A partir daí me chamaram pra algumas participações e um tempo depois para um segundo teste. Isso tudo ocorreu no final do ano passado e inicio desse ano, mas fui contratada mesmo em abril. Eu, sinceramente, sempre quis entrar pro Porta, sempre admirei muito o trabalho deles. Então, fiquei muito feliz percebendo que eles curtiam meu trabalho também, já que estavam me chamando pra participações. [ufa!] Pra mim é uma grande conquista ter entrado pra lá.

Você tem uma trajetória iniciada no teatro. O que você pode falar da tua carreira antes do Porta e hoje, segue trabalhando em paralelo ao canal?

Eu sempre fiz teatro, até mesmo estando no Porta. As peças que participei durante minha trajetória me dão muito orgulho, até porque algumas delas fui co-autora. Eu acho que no Rio não se tem muito costume de ver teatro quando as pessoas não são minimamente famosas, o que faz com que fosse muito prazeroso, mas não necessariamente me desse um retorno financeiro [risos]. A vida no teatro é mais árdua que no audiovisual nesse sentido, mas ao mesmo tempo é de um felicidade inenarrável quando se está no palco. E mesmo o Porta sendo um canal da web, eles têm uma peça, o Portátil, que tive a oportunidade de participar. Atualmente só estou fazendo trabalhos pontuais além de lá, mas ano que vem já tenho temporadas de peças marcadas.

É possível ser uma Ramil e não ser artista? Como foi tua infância, adolescência e o contato com a arte?

Que é possível é, mas que todos nós somos envoltos com arte, isso eu não tenho dúvida. Sou muito feliz de ter nascido nessa família. Já vivi muitos momentos que todos estavam reunidos batucando, cantando, dançando ou algo do tipo. Tenho certeza que isso me influenciou e influencia até agora. É maravilhoso ser parte de uma família tão grande com pessoas tão singulares, como muitas famílias. Mas por eles serem quem são, acho que decidir seguir o caminho artístico foi natural. Estamos sempre nos falando e incentivando uns aos outros em suas trajetórias e como anualmente nos vemos sempre, dá pra renovar um pouco dessa energia toda.

Sempre associamos a família Ramil à música. A opção pelas artes cênicas, pelo teatro, em algum momento foi um dilema pra ti? Aliás, o Ian chegou a gravar uma composição tua, certo?

Com certeza a música tem muita força na minha família. Desde criança tive aulas de instrumentos variados e a prática de cantar em momentos festivos, mas assim como a música, eu fazia cursos de teatro também. A escolha pelas artes cênicas não foi difícil porque na música, apesar de admirar e gostar de estar perto, nunca foi o que me completava. Existem certos clichês tipo “o palco me preenche” e “é onde me sinto viva”, mas a realidade é que esses clichês batem comigo também [risos].

Talvez na época do vestibular isso tenha ficado confuso, por conta da pressão da escolha, mas conversando com meus pais e com o incentivo deles vi que estava tudo bem ser mais uma da família na arte. E além de atuar, adoro escrever, e tive momentos que escrevia poemas com muitas frequência. E foi em um desses momentos que eu escrevi um texto que achei que daria “um caldo”. Como sou muito próxima dos meus primos, enviei pro Ian e disse que se ele quisesse poderia aproveitar. Tempos depois ele me disse que tinha se baseado nele pra compor uma música com o Alexandre Kumpinski [Apanhador Só]. O que me deixou muito feliz! Eu fico toda boba só de pensar que participei minimamente desse processo. Se quiser dar uma olhada, a música se chama Rota.

Você falou que é co-autora de algumas das peças que já trabalhou. Sempre mais focado no humor ou escreve textos dentro de outros gêneros também? Dentro do Porta, você contribui com os roteiros também?

Eu acho que a minha cabeça é mais voltada pro humor. Todas as peças que coescrevi, tanto Ricardo quanto Patrícia Piolho, tinham muitos momentos cômicos. Mas já escrevi peças dramáticas também, só que nenhuma com montagem profissional. Quem sabe um dia né? Já dentro do Porta, ainda não contribui, mas estou juntando algumas idéias, então daqui a pouco isso acontecerá.

Historicamente, a gente tem programas de televisão, personagens e humoristas que marcaram o jeito de se fazer comédia no Brasil. Você acha que o Porta já tem essa importância ou vai ter algum dia? 

Com certeza, acho que o Porta já é um marco. Um canal do tamanho do Porta dos Fundos não existia até então no Brasil. Hoje ainda vemos youtubers fazendo bastante sucesso, mas como um canal, com dramaturgia, vários atores e a estrutura que o Porta tem, não havia e ainda não há. Eles são pioneiros nesse sentido. Me lembro da primeira vez que vi um vídeo. Eles ainda não eram um canal, mas tinham lançado o primeiro episódio, em que o Totoro conduzia o programa e nele tinham vários esquetes. Eu pensei “genial. nossa, como esses caras mandam bem”, porque apesar de ser uma coisa “fácil”, ninguém tinha feito isso antes.

Muitos do grupo, e também ex-integrantes, mantém trabalhos importantes na televisão. Você tem algum tipo de plano de carreira de estar na TV e desenvolver outros trabalho com audiovisual, como cinema, por exemplo?

Plano não sei, mas com certeza tenho muito interesse em trabalhar com cinema. Já fiz algumas participações, mas nenhum papel realmente importante. Quando era mais nova, me limitava dizendo que só faria uma coisa ou outra, mas hoje tenho uma cabeça diferente, porque se o projeto for interessante e legal, independente de onde seja, teatro, web, novela, cinema, pode contar comigo. Acho que esse caminho eu vou vivendo e não definindo agora, porque como disse, tudo depende do que é.

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