Especial | Psicodália: uma utopia possível

Psicodália 2017_20ª edição_Bruna Cantarelli

20ª edição do Psicodália, realizada entre 24 de fevereiro e 1º de março

Texto de Diego Rosinha
Fotos de Bruna Cantarelli

Sou relativamente novo no Psicodália, muito embora a maioria das pessoas com as quais conversei vão desde 2010 e 2011 – justamente na data em que o festival mudou-se para a Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho/SC –, o que fez eu me sentir um tanto quanto velho.

Vou ao Psicodália, pulando alguns anos, desde 2008, quando ele era realizado São Martinho, município catarinense próximo de Florianópolis. Embora a proposta do festival seja a mesma de anos atrás –  paz e paz e paz em muita harmonia com a Natureza –, muita coisa mudou.

Na 20ª edição do Psicodália, realizada no carnaval, entre os dias 24 de fevereiro e 1º de março, foram aproximadamente seis mil pessoas acampadas, sendo quase mil delas trabalhadoras, que ganhavam em média 10 dálias – a moeda oficial do festival, que representa 10 reais – por hora. Quando estive lá pela primeira vez, a estrutura comportava três mil pessoas e o ingresso custava menos de R$ 100 – hoje já está na faixa de R$ 400, um aumento de 300%. É evidente que o público também mudaria nesse ínterim.

Atrações

Psicodália 2017_Erasmo Carlos_Bruna Cantarelli

Erasmo Carlos, uma das principais atrações do do 20° Psicodália

O Psicodália 2017 contou com mais de 200 atrações, praticamente dias inteiros ininterruptos com muita boa música, oficinas variadas, cinema e, lógico, ripongagem de todas as formas – nem que fosse no rio barrento da Fazenda.

Shows como do Gigante Gentil Erasmo Carlos, que colocou os jovens para dançar ao som de clássicos da Jovem Guarda – inclusive eu, que não sou tão jovem –, do performático Ney Matogrosso – que frustrou por ter cantado apenas uma música do Secos e Molhados, banda símbolo da bicho grilagem –, Di Melo, com um soul de torcer a espinha do “jacaré que trabalha duro pra não virar bolsa de madame ou boot de burguês”, Casa das Máquinas – com aquele rockão psicodélico para viajar sem gasolina, entre muitas outras fizeram um festival mágico e inesquecível. Bandas menos conhecidas, como Confraria da Costa, Iconili e Bandinha Di Dá Dó também se destacaram em meio à psicodelia generalizada, passeando pelo rock, hardcore, jazz y otras cositas más.

Apenas Ney #vidaloka #Psicodália_2017 #Psicodália2017 #NeyMatogrosso

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Plá

Lá conversei rapidamente com um expoente do Psicodália, o Plá. Conhecido nas ruas de Curitiba por tocar um rock ´n roll psicodélico ao ar livre, sempre com sua aparência de “Messias Indeciso”. O encontrei numa fila de banheiro – depois tentaria entrevistá-lo, mas por problemas técnicos psicodélicos ele preferiu esperar um pouco mais – esperando para tomar banho. Plá toca desde o primeiro evento, realizado na Lapa, região metropolitana da capital paranaense, em 2003, e tem impressionantes 59 discos, que devem tocar horror nas planícies e montanhas de Saturno.

O velho hippie comentou que o Psicodália cresceu muito nesse tempo e que a estrutura não acompanhou como deveria – acho que a fila quilométrica no banheiro e o cheiro de mijo e merda concentrados diriam a mesma coisa. Além disso, concordamos, que o público também mudou, o que acabou elevando um tanto os preços todos. Aqui, façamos justiça: o Psicodália é mantido apenas com os valores dos passaportes e das vendas, sem nenhuma espécie de patrocínio, o que deixa tudo mais caro. Afinal, trazer grandes nomes da música brasileira não é uma tarefa – financeiramente e operacionalmente – fácil.

Preços de aeroporto

Psicodália 2017_20ª edição_Bruna Cantarelli_

Dentro do evento, a moeda vigente era a dália

Lá no Psicodália os preços são de aeroporto. Uma água, 4 dálias, uma cerveja, 6 dálias, além dos lanches todos muito caros. Admito que comi pouco, mas também me arrependi de não ter levado mais tragos e cigarros para não ir à falência – a carteira de Dunhill era 16 dálias, o dobro do valor de mercado. Aliás, esse era o ágio comum em praticamente todos os produtos. Muitos dos velhos frequentadores, acostumados com a estrutura anterior, acabavam reclamando dos preços – inclusive o narrador desse texto.

Por que a gente é assim?

Furtando na cara dura o questionamento do Cazuza, eu o transfiro para o festival. É sempre um sentimento dúbio, desde a primeira vez…. Mas o Psicodália sempre tem mais prós do que contras, prós esses que nos deixam com uma sensação de utopia possível, porque por mais que os frequentadores tenham mudado de perfil – principalmente economicamente – a consciência de coletividade e camaradagem segue a mesma. É uma utopia possível, sim! Mas admito que tenho uma pequena grande preocupação com os rumos do festival. Que não cresça tanto, que desacelere… pois, fiquem com o aviso da Casa das Máquinas: “hey seu motorista, vá mais devagar, pois desse jeito vivo não vou chegar. Eu não tenho pressa, pressa de morrer, pra chegar cedo o bom é ir devagar”.

Longa vida ao verdadeiro espírito do Psicodália!

Psicodália 2017: Galeria de fotos

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