Izmália: “Subo lá e dou o meu máximo, não penso se vou ter voz no outro dia”

Entrevista Izmália

Luiz Paulo Teló

Ligamos o gravador. Valendo, vamos começar. Mas, antes de qualquer pergunta, Izmália inclina-se em direção ao aparelho e solta: “Fuck you, Hitler”. É como se mandasse um foda-se a toda uma parcela conservadora da sociedade, um primeiro recado, como quem diz “estou aqui”. Izmália já está há 18 anos.

Mesmo passando por picos de altos e baixos na sua projeção nacional, a cantora e compositora gaúcha é uma das grandes vozes femininas do rock brasileiro. Grande voz. Marcante, potente, afinada, uma interprete de mão cheia, de garganta privilegiada, que se descobriu cantando Aerosmith, alcançando as notas Steven Tyler, por volta dos 13 anos.

Izmalia está em estúdio, gravando um novo álbum, que ainda não tem nome, mas vai ser completamente acústico. Produzido por Frank Solari, o disco deve sair até o final deste ano, com faixas inéditas e também versões de músicas de outros álbuns. Nesse papo que teve conosco, a roqueira falou do novo trabalho, contou sobre sua carreira e também sobre questões mais pessoais, como seus ídolos, sexualidade e o fetiche em posar nua.

Cultuíssima: Como estão os preparativos para o novo disco?

Izmália: Eu não decidi o nome ainda. De primeira, ia se chamar Izmália e Os Incansáveis. Mas é um disco acústico, uma coisa que nunca fiz na minha carreira. Ele até vai ter bateria, mas vai ser só com violões, baixo acústico, baquetas de vassourinha. Algumas músicas vou regravar em versão acústica. Do primeiro CD, Quase Não Dói, Monogamia e O Beijo que não tem saída, vou regravar. Algumas do disco Meu Cigarro, que está na internet, no site da ex-gravadora, a Mutante, também vou regravar: Te encontrei, Meu Cigarro e Janeiro. O resto, são inéditas. Aí, eu ia colocar o nome do disco de Doce Rebelde, mas fiquei em dúvida, achei que os jovens iriam achar muito infantil, e também quero eles, então estou pensando. Talvez seja Izmália Acústico. Estou fazendo ele todo com o Frank Solari, no estúdio dele e com a direção dele. Os outros dois discos eu me dirigi, foi uma coisa bem Ramones: baixo, bateria e guitarra. No Meu Cigarro até tem algumas coisas de piano, em duas músicas, mas é basicamente a formação rock’n’roll.

Culturíssima: E como tem sido pra ti ser dirigida por alguém?

Izmália: Eu gosto, mas quando eu confio. Fui no Frank por confiar nele, por saber que ele sempre vai dizer o que fica melhor na minha voz.  Realmente, fazer tudo sozinha dá uma desgastada. Ter que entrar no clima, gravar a música, tu já compôs a música, e às vezes tu tem uma ideia na cabeça e se apega àquela ideia. Precisa de alguém que diga “olha, tá legal mas pode ficar melhor”. Eu queria, no início, gravar esse novo disco metade acústico, metade valendo, e o Frank que me persuadiu. A música Monogamia eu gravei violão e voz, um tom abaixo, e ficou bonito, bom de ouvir. Ouço e acho legal! Então, mas quando tem um coisa que eu quero, e que está soando bem, bato o pé e digo que não vou mexer.

Culturíssima: E as tuas composições, nascem naturalmente no violão?

Izmália: Tenho violão em casa, e é o que eu toco. Arranho um pouco de piano, toco baixo, bateria um pouquinho também mas, cara, surge de tudo que é jeito. Estou aqui, conversando contigo, e aí me vem alguma coisa, sei lá, uma melodia, aí pego meu celular, gravo… mas nem sempre é no violão. Às vezes, sei lá, até no banho, ou cozinhando, ou eu ouço uma outra música, que gosto muito, fico cantarolando, aí sim, pego o violão e surge alguma coisa.

Culturíssima: Quem é a tua banda agora? Nesses 18 anos de carreira, tem alguém que te acompanha a mais tempo?

Izmália: Infelizmente, bandas são como relações: elas acabam, recomeçam, vem gente nova. Estou há quatro anos, basicamente, com a mesma formação. O baterista mudou três vezes nesses quatro anos, mas nos 18 anos, cara, eu perdi a conta de quantas formações eu tive. No início eu tinha essa coisa de não querer que os caras fossem embora, ficar triste, aí depois a gente vai ficando mais durona e a gente mesmo diz que não quer mais, porque não está bom. Então hoje é Sfinge Lima [baixo] e o  Martin Lucas [guitarra], que estão comigo há quatro anos, a gente é muito amigo e eu espero continuar com eles pra sempre, porque são muito bons! O Sfinge é formado em música pela UFRGS, faz arranjo, regência. E o Martin é incrível, era da Steve Vai Cover, toca com um monte de gente, do metal até violãozinho, um cara super versátil e fácil de trabalhar. E na bateria quem está com a gente é o Rodrigo Massia, que espero também que ele fique bastante.

Culturíssima: Em 2011 você assumiu o vocal da banda Redoma. Como isso aconteceu e por quê não foi pra frente?

Izmália: É, infelizmente o projeto não continuou. Eles foram atrás de mim, eu estava fazendo um show, no [bar, em Porto Alegre] Divina Comédia, e o Lucas foi lá, com o Dudu, que era o baixista da época, e no final eles disseram que queriam que eu ouvisse a banda. Me deram o CD, a vocalista saiu, e eu senti uma vibe muito boa, olhei no olho do cara e disse: vou ouvir, mas não é só isso que tu quer me falar. Eu senti, eu sou espírita, eu sigo isso e dou vasão a minha espiritualidade. Ele disse “eu quero que tu entre na banda”. Falei que ia para casa ouvir, e se gostasse eu entrava. Duas horas depois, na madruga, liguei pra ele: quero fazer! Aí entrei, mas infelizmente acho que eles não querem ser músicos. Ninguém se fala, não tem ensaio, e foi minguando, minguando, que cansei de ligar, cansei de tentar. O baterista foi o primeiro que se isolou, parou de falar com todo mundo. Acho legal que certas pessoas queiram viver no meio do mato, adoro o mato também, mas eu não posso viver lá, cara, tenho que trabalhar! E coisas tipo assim na Redoma aconteceram. Eu tenho que correr atrás, que a vida é uma só. A gente tem que aproveitar a nossa existência. Provavelmente nós até vamos reencarnar de novo, e temos que fazer o melhor, aproveitar, que eu, como Izmália, só vou vir dessa vez, não vai ter outra.

Culturíssima: A Redoma tem um som um pouco diferente do teu, era mais metal.

Izmália: Eu adoro metal, o meu sonho sempre foi cantar em uma banda de metal, porque eu tenho muita potência. Quando o Frank me chamou para fazer Van Halen, foi maravilhoso. Isso realmente me atrai. Eu tenho uma música nova, que é mais pesada, mas não sei se posso categorizar como metal. Mas eu adoro! Se o Pantera voltasse, me chamasse, eu ia lá [risos].


Culturíssima: Você morou um período no Rio de Janeiro. Como foi essa experiência e por quê não São Paulo? Já que o RJ não é exatamente um reduto do rock.

Izmália: Eu gosto da praia, da energia, sabe? Do mar, da natureza. E, claro, lá tem a Rede Globo, o Projac, outras grandes rádios, como a Transamérica. Na época tocou bastante o Quase Não Dói na Transamérica. Então me mudei pra lá, enfim, porque minha ex-mulher era Presidente da Funarte, e ela tinha que morar lá, então fomos pra lá. Na primeira vez morei um ano e meio, pra acompanhar ela e aproveitei que minha carreira andou também. Depois eu voltei para Porto Alegre. Chega sempre uma hora que eu quero voltar pra cá. É a família, são os amigos… O Rio de Janeiro é uma cidade muito legal, mas realmente tenho um jeito muito diferente dos cariocas. Essa coisa deles não terem compromisso com o horário, todo aquele jeito meio malandro, e eu sou mais caxias. Agora, final de 2012, pra 2013, fui de novo, fiquei um ano. Morei no Vidigal, depois fui morar em Ipanema. Mas aí cansei, comecei a entrar numa deprê, nem ia mais atrás das coisas. Fiquei com uma saudade daqui, das pessoas. O pessoal lá é meio fechado, eles são legais para tomar um chope, trocar uma idéia e tal. Mas aquela coisa do “cara, to precisando conversar, to precisando ir na tua casa”, aí ninguém pode. Eu sou muito assim e só vou onde me sinto bem. Mas acho que vou ter que passar uma temporada em São Paulo também, para plantar mais, porque o trabalho sempre vinga quando eu vou. Primeiro eu quero fazer uns três shows lá, tipo quinta, sexta e sábado, em lugares pequenos, para lotar esses lugares e eles gostarem muito, e ai sim pegar as minhas coisas, ir pra lá e arranjar um lugar pra morar.

Culturíssima: Hoje você tem um circuito de shows bem estabelecido por aqui, tanto no interior quanto na região metropolitana. Que tipo de circuito você encontrou no Rio?

Izmália: Não encontrei. Tem um lugar que eu toquei lá, que chama Saloon 79. E outras coisas eu fiz de ir em rádio mesmo. O Guto Goffi é meu amigo, então se pintava algum evento, alguma coisa do Cazuza eu fazia. Mas realmente não tem, é incrível. Tem muito samba, muito funk, MPB, mas rock mesmo, não conheci no Rio.

Culturíssima: Quando você descobriu que tinha essa voz poderosa?

Izmália: Quando eu tinha 13 anos, e comecei a cantar Aerosmith no colégio. Mas eu já tocava violão desde os sete anos. Desde de criança, com três anos, eu já dublava Rita Lee. Pegava um lápis para fazer de microfone. Aí, quando eu tinha 13 e já alcançava as notas do Steven Tyler, os guris diziam: “Bah, tu canta muito!”. Então comecei a participar de tudo quer era festivalzinho que aparecia. E minha escola sempre foi os grandes vocalistas de rock, nunca tive uma professora de canto. É o Robert Plant, o Steven Tyler, a Tina Turner, a Elis…

Culturíssima: Prefere cantar as tuas músicas ou as músicas dos teus ídolos?

Izmália: Depende. Eu me sinto à vontade com os dois, mas eu gosto muito de cantar as dos ídolos. Demorei a cantar as minhas músicas, ainda às vezes demoro. O público tem que pedir um pouco, porque às vezes esqueço de uma ou de outra.

Culturíssima: O mundo do rock é machista?

Izmália: Ele é um pouquinho. Mas o mundo do rock, tenho isso a declarar, é um dos que mais acolhe as pessoas. Tem o Rob Halford, vocalista do Judas Priest que é gay assumido, e é uma banda do metal. No rock a galera não se importa muito se tu é mulher, é homem, se tu é gordo, magro, eles querem  ver se tu sabe fazer mesmo. Então quando eu subo no palco e canto, está tudo certo, todo mundo respeita. Mas eu noto que poderia estar bem mais na frente com a minha carreira, em termos de marketing, se eu fosse um cara, porque ainda assusta um pouco ver uma guria de voz forte, cantando mais forte que um homem. Eles se assustam um pouquinho [risos].

Culturíssima: Ainda tem poucas mulheres no meio musical, como interpretes e como instrumentistas até.

Izmália: Agora está surgindo mais. A própria Alanis acho que foi responsável, por desde os anos 90 ter feito muito sucesso, ter vendido muito disco. A gente tem visto mais gurias tocando baixo, mais gurias tocando bateria. Eu pilho muito, sou muito fraternal, acho que a gente tem que se unir e tocar e mostrar que a gente faz mesmo.

Culturíssima: O que, daquela Izmália que levantou a blusa com 17 anos em um show no colégio Rosário, tem na Izmália de hoje?

Izmália: A mesma coisa. Eu levanto até hoje, se deixar [risos]. Eu sou bem infantil ainda. Tenho dois cachorros, e se tu me visse brincando com eles… Claro, sou uma mulher de 38 anos, não tenho mais aquela ingenuidade perante as coisas. Mas no palco é isso aí, acho que vou ser assim, como é o Mick Jagger, sobe ali e não tem idade.

Culturíssima: Sobre a sexualidade, você já enfrentou algum tipo de preconceito? Entende que hoje as pessoas lidam melhor com a diversidade?

Izmália: Acho que sim, porque mostra na novela, muitos artistas acabaram se assumindo, tipo a Daniela Mercury, que ninguém esperava. Mas eu não dou muita bola pra isso, sinceramente pra mim, isso é normal. Também já fiquei com vários caras, não tenho essa, sou uma guria que vivo a minha vida e faço o que eu quero. Agora, se tem pessoas que não entendem, pra mim elas não falam, deve ser velado esse preconceito. Na minha frente ficam mais quietos, mas e óbvio que a gente sabe que tem muita coisa por trás, que falam, de repete alguns lugares. Já pensei: poxa, por quê nunca toquei em tal festival? Será que é por isso? Pelos caras preferirem colocar uma guriazinha de saia, rebolando, mais hetero? Mas eu rebolo também, então não entendo [risos].  Mas eu não deixo isso me afetar, não estou nem aí, o problema é deles.

Culturíssima: Claro, tem aquela coisa que ainda é muito importante, de se auto afirmar, de buscar estabelecer uma resistência e um combate à parcela conservadora da sociedade. Mas, se por um lado um artista não precisa assumir ser hetero, também não faria sentido assumir ser gay.

Izmália: Eu ia tocar exatamente nesse ponto. Nunca chego nos shows e fico falando nisso. Eu vou lá e faço o meu show! Não tenho nada contra quem faz isso, quem quer levantar bandeira e fazer o discurso, dizer que gosta mesmo é de mulher, ou que gosta mesmo é de homem, falar que ser viado é que é massa e tal, legal! Mas eu vou lá e faço o meu show. Cada um faz a sua, não quero condenar ninguém que levante a bandeira. Se me perguntarem, eu falo.

Culturissima: Na entrevista com o Leo Felipe, ele disse que o rock gaúcho seria reprovado em uma revisão feminista. Você já pensou nisso?

Izmália: Não, nunca senti isso. Acho que quando a galera é nova, quer falar de sexo, tem que falar que a mina é gostosa mesmo, e deu. Acho, por exemplo, que o funk carioca denigre muito mais a mulher que o rock gaúcho, com certeza. Aquela coisa do “vem que cá que vou te bater e tu vai gostar”, acho um horror aquilo. Quando eu morava no Vidigal, fechava todas as janelas do apartamento, poxa, e tinha que aguentar aquilo tocando. Até gosto de funk, de MC Marcinho, Claudinho e Bochecha, mas esse bagaceiro, que fala mal das mulheres, eu não curto. No rock gaucho, não lembro de nenhuma música que eu tivesse me sentido agredida.

Culturíssima: Você acredita nesse rótulo de rock gaúcho?

Izmália: É um assunto delicado. Acho que antes, quando teve Cascavelettes, TNT, Bandaliera, essas bandas tinham um estilo. Mas tem muitas bandas que copiam essas bandas. Eu não vou citar os nomes aqui, porque não sou louca. Então o que está acontecendo com as bandas do rock gaúcho de hoje em dia, é que muitas copiam esses que eu citei, acham que rock gaucho é tocar como TNT e Cascavelettes. Cada um tem que descobrir o seu diferencial, alguma coisa. Tem uma outra que imita o Los Hermanos que eu fico de cara! Tenho o Rodrigo Amarante tatuado nas costas, o Vinicius de Morais também e vários mestres, e o que mais cuido é para não fazer música igual ao Rodrigo Amarante, porque amo tanto ele… Se eu fizesse um disco cantando igual a Amy Winehouse, todo mundo ia perguntar o que eu estava fazendo! Eu faço um rock gaúcho, cantado com o nosso sotaque, sem forçar sotaque carioca e sem imitar os Casca e TNT. Mas acho que a gente tem um estilo, essa coisa mais british, sei lá, menos MPB e mais rock. Essa coisa é daqui mesmo.

Culturíssima: A tua família tem uma proximidade com o mundo artístico. Chegou a enfrentar alguma resistência para seguir a carreira na música?

Izmália: Resistência não, mas para ter aceitação total, eu tive que mostrar que eu queria fazer mesmo. De início tinha preocupação com os estudos, me travaram uma vez, me proibiram de tocar por um ano para só estudar. Antes de entrar na PUC eu estava terminando o supletivo, que eu tinha rodado no segundo grau, então me lembro deles darem uma travada. Mas aí, enfim, depois eles viram que era sério mesmo, e hoje eles me ajudam.

Culturíssima: Você tem feito muitos shows cantando Amy Winehouse. O que você acha dela e quais outras cantoras que te inspiram?

Izmália: Acho ela genial. Chorei quando ela morreu, fiquei muito mal mesmo, sinto falta. Compositora, cantora, estilo, personalidade, jeito de ser, fazia o que queria, que é um pouco o que eu faço, e é por isso que as pessoas tem um preconceito às vezes. Não faço uma personagem, sou isso aqui que tu está vendo. Eu gosto muito também da Alice Caymmi, a neta do Dorival, que já lançou dois discos. Esse último dela eu escuto direto. Das novas cantoras, é a única que realmente me faz ouvir direto, e se ela vier fazer show em Porto Alegre, ou se eu estiver em São Paulo, eu vou ir ver. Das antigas Tina Turner, Alanis, Joan Jett, que não tinha um vozeirão, mas que pela composição, pelo lance de cantar gritado e de mandar os homens “se foder”, porque ela ia cantar assim, e ela enfrentou muito preconceito por ser mulher. A Maria Bethânia pra mim é uma deusa. A Adriana Calcanhotto eu escuto muito, desde criança, é outro estilo de voz, outro timbre. Marisa Monte também é uma deusa. Todas as cantoras que cantam muito bem eu gosto. Por exemplo, eu gosto de Fernanda Takai, acho que ela usa bem a voz dela, adoro o primeiro disco, Luz Negra. É isso, acho que tem que ter personalidade, são muitas! Maysa, Dalva de Oliveira, a Carmen Miranda, ouvia muito quando era criança, tinha uma fita cassete e, nossa, como ela cantava rápido aquelas músicas… E cara, a Janes Joplin, já ia esquecendo a mestra de todos nós!

Culturissima: Você já citou alguns nomes, mas fora do rock, o que mais gosta de ouvir?

Izmália: Cara, é isso aí que te falei, vai muito do momento. Steve Wonder, gosto de ouvir também o MC Marcinho, Beatles eu ouço diariamente, Elvis também, sempre tem alguma que cantarolo ou que eu ouço. Samba, se for bom, eu adoro. Coisas mais antigas como Noel Rosa, eu cato na internet para ouvir. O próprio Amarante, gosto muito do disco Cavalo, que é completamente diferente de Black Sabbath, que ouço muito, e depois vou lá e ponho o Amarante pra dar uma acalmada.

Culturíssima: Você é uma grande cantora. Hoje a gente tem essa geração bastante autoral, mas no passado existiam artistas que eram mais interpretes, gravavam composições de outras pessoas. Você não tem essa vontade de também gravar músicas de outros compositores?

Izmália: Eu até me ressinto quando as pessoas dizem “ah, eu gosto do show da Izmália, mas é muito cover”. Cara, eu sou uma interprete, não é cover. Eu tenho cantado há uns dois ou três anos Doce Vampiro, da Rita Lee. Do meu jeito, com a minha pegada, com o mesmo arranjo, mas com o meu jeito de tocar. Acho muito legal ser interprete, acho tão importante quanto ser compositor. Estou só botando mais fé nas minhas músicas, porque acho que a musica brasileira está muito pobre, a nova música dos novos compositores. Se não tivesse surgido a Maria Gadú, nós estávamos meio perdidos um pouco. Acho ela muito boa, mas ainda sou mais o Amarante. Então, adoro ser interprete e pretendo fazer um disco sem nada meu.

Culturíssima: Você já pensou em explorar o mercado aqui dos nossos vizinhos, como Argentina e Uruguai?

Izmália: Pensei, e acho que vai ser com esse disco acústico. É muito mais fácil viabilizar a ida de uma banda. O Wander Wildner, por exemplo, tem uma banda em cada lugar, o que facilita muito para ele rodar o mundo. Ele é outro mestre que eu amo, e o Frank Jorge, não posse deixar de citar esses dois. Amo muito. Mas eu quero levar minha banda, eles me deixam mais segura, a gente já trabalhou alguns arranjos, certas coisas de palco que eu interajo com eles. Acho que esse circuito latino vai rolar com esse disco acústico. Tenho muita vontade, sou fã do Fito Paez também, tenho frase tatuada, até pensei em fazer um trabalho só tocando Fito. Ideias tem muitas, agora a gente precisa botar em prática. Sempre esse lado da viagem era o que me inviabilizava, ficava caro, mas enfim, agora a gente vai fazer.

“Eu subo lá e dou o meu máximo, não penso se vou ter voz no outro dia, essa coisa não passa pela minha cabeça quando estou fazendo um show. E faço os guris darem o máximo também, e é por isso que lota. Está faltando verdade, visceralidade. Eu vou ver também outros shows, e está faltando”

Culturíssima: Como está o público de rock no RS?

Izmália: Eu não posso reclamar. Os meus shows são sempre lotados, e se não são lotados, são muito cheios. Até agradeço a galera. Tenho fotos aqui, porque sempre mando tirar foto da fila. Mas é por causa da qualidade, eu subo lá e dou o meu máximo, não penso se vou ter voz no outro dia, essa coisa não passa pela minha cabeça quando estou fazendo um show. E faço os guris darem o máximo também, e é por isso que lota. Está faltando verdade, visceralidade. Eu vou ver também outros shows, e está faltando. Então as pessoas vão em busca da minha energia e da voz, claro. Te digo, o público está carente de rock. Quem fizer um trabalho bom, consistente, com uma banda boa, vai lotar.

Culturíssima: E o novo CD, que vai ser acústico, já sabe em que formato vai lançar?

Izmália: Cara, já pensei nisso, mas vinil ainda não tenho coragem de fazer. Sempre acho que quase ninguém vai querer comprar, pelo investimento. Talvez eu lance ele para todo mundo ouvir, da mesma forma que Radiohead faz, deixando uma semana aberto, para quem quiser ouvir, baixar, e depois comprar no itunes, e vou fazer algumas cópias para vender no show, porque as pessoas sempre pedem.

Culturíssima: Você está com gravadora ou independente?

Izmália: Estou independente, rescindi com a gravadora. Infelizmente, comigo chegou um momento que eu me decepcionei com a gravadora, porque eles estavam muito devagar, a Mutante. Não tenho nada contra o Antônio, é um cara super querido, continuamos nos gostando, mas são diferenças de pensamentos. Eu preciso de uma coisa mais rápida, o meu DVD demorou sete anos para sair. Hoje em dia acho que artista vai muito melhor sozinho, ele consegue fazer o trabalho dele andar sozinho, a não ser que seja uma gravadora que leve muito a sério aquele artista, e dê toda prioridade, com uma equipe trabalhando pra cima dele, aí eu acredito. Mas elas estão em crise, hoje em dia a pessoa consegue levar sua carreira muito mais longe, marcar show e levar sua carreira sozinha do que ter toda aquela burocracia de ter que falar com departamento da gravadora, pede CD, aí eles pedem pra alguém, enfim, eu não aguento mais isso.

Culturíssima: E quando acha que fica pronto o novo disco?

Izmália: Se tudo correr bem, até o final do ano já estou com ele prensadinho, fazendo show de lançamento, provavelmente ali por novembro. Vai ter 12 faixas, e vou lançar um calendário com fotos nua também. Então vai ser rock’n’roll mesmo! A galera vai comprar o CD e vai ter um calendário, com os 12 meses do ano. Só não sei se essas fotos vão ser totalmente nuas, mas acho que vou fazer uma coisa meio assim, com a guitarra na frente e tal. É um fetiche feminino, porque não sei com que idade vou poder posar nua, então vou fazer agora, pois é um sonho poder ficar velha, olhar e dizer: porra, mas eu era gostosa mesmo, hein [risos]! Sabe, eu gosto muito da Madonna, do Bowie também, que tinham isso de usar a imagem de um jeito um pouco mais transgressor. Acho que está faltando um pouco disso hoje. Claro, sempre de um jeito artístico, nunca mal feito ou bagaceiro, mas eu gosto.

Adicionar a favoritos link permanente.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *