Marcos Piangers: “A gente acha que é mega sofisticado, mas ainda é muito primitivo”

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Luiz Paulo Teló

Quem é e o quê faz Marcos Piangers? Não é uma pergunta tão simples de responder. Quem conhece ele desde seus primeiros anos de programa Pretinho Básico, na rádio Atlântida, a partir de 2007, vai pensar uma coisa. Quem acompanha seu trabalho atualmente, certamente pode ter uma impressão diferente. Piangers segurou a onda, achou uma maneira de ser menos impopular, mas sem deixar de sempre buscar a sua verdade. Pelo menos é o que nos conta nesta entrevista exclusiva.

Em 2015, com o livro O Papai é Pop (editora Belas-Letras), o comunicador da RBS, natural que Santa Catarina, que veio trabalhar em Porto Alegre em 2006, conta como aprendeu a ser pai e, automaticamente, uma pessoa melhor. Pai banana, como gosta de definir. Segundo ele, estamos diante da melhor geração de pais, mas reconhece que ainda temos muito de primitivo em nossas atitudes.

Fomos além da publicação que vendou até agora 60 mil exemplares. Piangers revelou que finalmente entendeu o feminismo: “Eu entendia, aí entendi mais um pouco, aí entendi mais um pouco, só que nesse ano explodiu minha cabeça, velho!”. O modo de fazer rádio jovem, Pretinho Básico e o personagem Almir também foram pautas. Confira:

Culturíssima: Como surgiu a oportunidade de começar a escrever sobre paternidade e a ideia de lançar um livro?

Marcos Piangers: Quando a minha primeira filha nasceu, eu já fui um pai participativo, mas menos do que deveria. Acho que com o tempo fui aprendendo a ser pai. Trocava fralda, dava banho, cuidava, passeava e tudo mais. E aí quando ela começou a falar algumas coisas, a fazer algumas coisas, comecei a anotar, meio que como uma prática de processo criativo. Comecei a anotar todas essas histórias e depois de um tempo, ela tinha uns dois ou três anos, comecei a ver um quadrinho de um cara que desenhava a própria família. Cara, isso daqui é muito legal, é o tipo de coisa que eu gosto, que acho verdadeiro! Então comecei a gostar muito de quadrinhos, de Crumb, Harvey Pekar, desses caras assim, e comece a ver que tinha uma forma de storytelling interessante, de falar da sua própria vida, de tentar achar a sua própria verdade. Aí comecei a escrever e a desenhar. Tenho até hoje um caderninho em que desenhava as várias histórias, de coisas que elas foram crescendo e fazendo ou me dizendo. Em 2012 comecei a transformar esses desenhos em textos, catoons e tál, aí em 2013 me chamaram para escrever na Zero Hora. Comecei em 2013, aí 2014 todo e em 2015 me ligaram: Tu não quer publicar essas crônicas? Pô, claro que quero! Mas sabendo que a internet tem um poder de alcance muito maior do que livro hoje em dia, e isso é a coisa mais louca, porque os textos no Facebook alcançam duas milhões de pessoas, e o livro vendeu 60 mil exemplares. No Brasil isso é incrível, 60 mil! Mas cara, se tu for comparar isso com números da internet, é um número bem pequeno. Porém, de fato, o livro alcançou uma audiência, um público, uma galera apaixonada pelos textos. Teve uma grande repercussão e grandes poderes exigem grandes responsabilidades, então fiz questão de bater firme em alguns pontos, entre eles a importância do pai presente e a importância da equidade de gênero.

Culturíssima: Mesmo com essa comparação que você fez, 60 mil exemplares é um número muito bom. Já esperava que o livro tivesse tanto sucesso?

Marcos Piangers: Claro que não, velho. Não esperava! O sucesso é muito difícil de prever. Ana Júlia era a música que Los Hermanos menos acreditava. O Bon Jovi quando gravou I’ll Be There For You, foi a última música a entrar no disco. O sucesso é imprevisível, na real! Às vezes as coisas estão na hora certo, no lugar certo. E o livro foi totalmente ao acaso. Se tu for ver, tinha uns textos que davam muito certo no Facebook, aí eu achava “ah, vou botar o nome desse texto no livro”. Tem um texto lá que o nome é Ser Pai é Fazer Conta, então o nome do livro seria Ser Pai É…, que é mau pra caralho! Ia ser muito menos impactante. Um dia estava tomando banho e pensei “O Papai é Pop”, e comecei a fazer relação de papai com papa e tentar achar trocadilhos, e ficou. Falei com meu editor, perguntando se não seria meio prepotente, ele disse que não, que era isso aí mesmo. Nada planejado! E as pessoas ficam dizendo “ah, tu encontrou um target, teve o timing”. Cara, não teve timing, não teve target, não falo para nenhuma estratificação demográfica. Eu falo da minha vida, velho. Quando tu faz humor, faz um personagem, a comédia te protege. Depois tu pode dizer que foi uma piada, que era uma brincadeira, que era o personagem. Ali, é minha vida, cara. São as coisas que acho as mais importantes do mundo, que são minhas filhas, e o jeito que a gente vive junto. A gente vive muito pouco, cara. A gente é prepotente, acha que vive muito, mas vive muito pouco. É muito rápido, e, assim, é muito massa, o processo é muito legal. E mega chato! E a parte mais chata é a parte mais legal, porque daí tu valoriza o outro lado. É o Yin e Yang mesmo, cada coisa complementa a outra, cada noite que tu acorda é um sorriso que ela te dá. É animal! É o melhor aprendizado, a forma mais interessante de se manter criativo.

Culturíssima: Nas palestras que você vem fazendo, nas entrevistas, quando fala do livro, sempre comenta que esta é a melhor geração de pais que já se viu. Por que você acha isso?

Marcos Piangers: A gente é primitivo. A gente acha que é mega sofisticado, mas ainda é muito primitivo. A gente ainda faz coisas vergonhosas com mulheres, com negros, com pobres, saca? A gente é primitivo. Então, há bem pouco tempo éramos primitivos no sentido em que cultuávamos uma sociedade em que o homem é malandrão, trai a mulher, delega o trabalho de cuidar da família para a mulher, e o homem está no iate, tomando champanhe, está na balada, e é legal pra caralho. Mas se o homem vai a um evento com o bebê no colo, é “porra, que mau, está de babá hoje”. Pensamento primitivo, basicamente. Acho que a gente está evoluindo. É claro que a gente é a melhor geração de pais, porque a gente é a melhor geração, ou pelo menos a mais preocupada com questões de raça e de gênero, e uma das evoluções é essa do pai se perceber como agente importante ali na família. A divisão tradicional era: o pai sustenta a casa, paga todas as contas, chega em casa e põe chinelo, vê TV, futebol, bebe cerveja e ninguém incomoda o pai, o pai está cansado. E a mãe lava a louça, cuida dos filhos, da educação, e o pai eventualmente brinca, leva pra passear. Isso, claro, é uma imagem estereotipada, mas é meio real. Não precisa o cara pesquisar muito para ver que era meio que o padrão dos anos 80, e super o padrão dos anos 50.

“Hoje tem pai banana, e fico feliz, orgulhoso de ser um pai bananão! “Ah, sou pai brother”. Não é pai brother, velho, é pai banana! O pai que dá banho, troca fralda, acorda de noite, que lava a louça, leva na creche. Vejo um monte de pai assim, orgulhoso de ser assim, e isso é muito massa”

Hoje não, cara! Hoje tem pai banana, e fico feliz, orgulhoso de ser um pai bananão! “Ah, sou pai brother”. Não é pai brother, velho, é pai banana! O pai que dá banho, troca fralda, acorda de noite, que lava a louça, leva na creche. Vejo um monte de pai assim, orgulhoso de ser assim, e isso é muito massa. É bom para mulher, dividir um pouco, porque a mulher sempre foi romantizada como mãe, e acho importante o homem romantizar um pouco mais e a mulher desromantizar, trabalhar, fazer as coisas dela. Pô, cuidar da vida dela, cara, enquanto o homem está fazendo a parte dele. Não é nem dividir, acho que a gente deveria fazer mais, porque a mulher se fode com o corpo dela, se rasga e muda muito a vida, e a gente não é tão impactado. Então vejo muito isso, vejo muito pai orgulhoso, feliz, sempre com os filhos, e isso é bom. É bom para a mulher, é bom para a criança, que se senta mais protegida, e é bom para o cara, que vira uma pessoa melhor. Tu começa a se preocupar em tratar as pessoas bem, em ser melhor no trânsito, melhorar a questão ambiental, separar o lixo, então tu vira uma pessoa melhor.

piangers_o papai é pop

Culturíssima: Cara, você veio da RBS Santa Catarina para trabalhar em Porto Alegre em 2006. Como aconteceu essa mudança?

Marcos Piangers: Comecei a trabalhar em 2001 na TV, 2002 na rádio, em 2003 comecei a apresentar o Patrola e aí em 2006 já não aguentava mais fazer o Patrola, não aguentava mais Floripa, fazer as mesmas coisas, entrevistar as mesmas pessoas, as mesmas bandas, tudo muito pequeno, muito restrito. E eu sempre falava pra galera daqui, se quisessem me chamar, eu queria vir para Porto Alegre. Gostavam do meu trabalho, achavam que tinha potencial, e me trouxeram em 2006. No ano seguinte comecei a fazer TVCOM, aí Kazuka, e Pretinho Básico, aí uma coisa leva a outra. A RBS te dá essa chance, de trabalhar em várias áreas. É maneiro porque não fica chato.

Culturíssima: Você é super ligado em novas tendências, em tecnologia. O que você acha do tipo de rádio jovem que a Atlântida faz e se essa rádio atende às demandas do jovem de hoje?

Marcos Piangers: A gente vive um momento de reestruturação de mídia. Teve uma época, lá no começo, que inventaram os folhetins, então cada pessoa podia imprimir um negócio, e começaram a fazer basicamente propaganda política nos postes, a distribuir panfleto e defender um discurso. Isso evoluiu para pessoas que queriam fazer reportagem, noticia, matéria, e isso evoluiu para jornal, e rádio a mesma coisa, teve esse processo, e televisão também teve esse processo. Hoje a gente vive um momento de internet que é quase a destruição de todos os processos antigos e a reinvenção de tudo o que a gente entende como consumo de conteúdo. Rádio jovem, como todo o resto, tem que se avaliar, é o momento de ir para a terapia e se perguntar: será que somos uma rádio jovem? A Atlântida fez isso há dois anos, sentamos em uma terapia, e vimos que não éramos uma rádio jovem, mas sim uma marca. Uma marca que produz conteúdo para pessoas com comportamento jovem. E nesses dois anos a gente vem tentando entender como a gente vai comunicar melhor para esses caras, de qualquer idade, mas com comportamento jovem, e como a marca Atlântida pode estar em todos os lugares da vida desse cara. E é em um festival de música, em uma grife de roupa, em um game, em um aplicativo e eventualmente numa antena de rádio. E a antena ainda paga as contas, e é por isso que normalmente a grande mídia se dá muto mal nisso, porque quando algo paga as contas, você foca mais naquilo e esquece do resto. Então a gente vai ver cada vez mais a mídia tradicional diminuindo e a mídia digital aumentando, e nesse processo do mercado acompanhar, muita gente vai cair no meio.

Culturíssima: A função de curadoria musical perdeu importância?

Marcos Piangers: Muita gente discorda de mim, mas acho que perdeu. O curador agora é todo mundo, não só de música, mas de informação. Tu confia no teu brother, eu confio no meu tio. As pessoas confiam no que seu primo postou no Facebook. “Meu primo disse que a Dilma matou o Eduardo Cunha”. A gente acredita, porque nosso primo falou, nosso tio falou, e eles são nossos curadores! Voltamos para a época do panfleto, qualquer pessoa pode imprimir um jornal ou postar no Facebook o que quer. A gente tem nossos curadores, e nos apropriamos de discursos dos que consideramos nossos curadores, e das playlists e bandas dos nossos curadores, que não é mais o cara que está na mídia, é o cara que é nosso brother, ou está no Youtube, no Blog ou no Instagran. Agora vamos passar por décadas de solidificação desses curadores, até de novo termos conglomerados desses curadores, que serão os novos conglomerados de mídia.

Culturíssima: Nos primeiros anos do Pretinho Básico, em muitos momentos você esteve envolvido em polêmica com algumas piadas e brincadeiras, consideradas de mau gosto ou então muito ofensivas. Hoje você toma mais cuidado com isso? Como você se enxerga como formador de opinião?

Marcos Piangers: Pois é, velho. [Um suspiro, seguido de uma longa pausa] Cara, eu não acredito em deus, é uma coisa muito impopular. Acredito na ciência, no método científico, que é extremamente impopular. Odeio política. Acho que as pessoas têm a obrigação de ir atrás de informação, então não gosto de ser político nem na entrega de informação. Gosto de ser bem contundente. Isso é extremamente impopular também. Aprendi que essas posturas impopulares são infrutíferas, elas basicamente não me levam para lugar nenhum, cara [risos]. Eu ficava com a sensação de que, porra!, as pessoas tem que saber disso, não sou eu que vou ter que mastigar pra elas, saca? Então isso é bem ruim, as pessoas não entendem, elas gostam de tudo mastigadinho, elas se sentem magoadas, e aprendi que é meio foda você querer falar de uma maneira inteligente para muitas pessoas que não querem entender.

O que mais vejo hoje são um monte de frases prontas. No Facebook é o que mais tem, e as pessoas gostam e curtem! Esses dias uma pessoa postou um parágrafo cheio de clichês, e as pessoas adoram. “A vida paga, o mundo dá voltas e um dia a máscara cai”. Sabe esse tipo de coisa? O que quer dizer, cara? Aí, intimamente, consigo diagnosticar hipocrisias, pequenas inconsistências no modo em que a gente vive. Isso é tradicional, qualquer pessoa um pouco mais instigada em ir um pouco atrás de conhecimento percebe as contradições da nossa construção social. E boa parte delas ficam deslocadas socialmente, se dão mau na vida, porque não conseguem fazer amizade com ninguém, e veem o mundo de uma forma diferente, e não aceitam tapinha nas costas. Então, de fato, seguro a onda hoje em dia. Acho que todo mundo no Pretinho segurou a onda. Eu, o Potter, o Fetter, Porã, todo mundo percebeu que o programa ficou grande demais, que a gente está falando pra gente demais e que muita gente não vai entender e muita gente não quer entender. Porque é melhor você ouvir esse amontoado de clichê, em que as frases vêm prontas. É muito louco isso, com o Papai é Pop  eu tento desromantizar um pouco o processo, dizer que você não vai se apaixonar pelo seu filho no primeiro olhar, e que tem dias que dá vontade de correr e abandonar tudo. E sempre tem um comentário lá no meio que diz “mas eu me apaixonei pelo meu filho no primeiro olhar”. As pessoas têm essa inclinação ao romantismo, à frase pronta, à beleza, e é mentira, velho. É mentira, saca? O maior desafio de qualquer pessoa é ir atrás da sua verdade, e eu sempre tentei ir atrás, mas desse outro modo, falando a real. Mas é triste você ver que um monte de gente se magoa, e não é a intenção magoar. Você não acredita em deus, aí em algum momento você vai comentar alguma coisa à respeito e alguém vai olhar pra ti e dizer “pô, te achava um cara legal, mas você não acredita em deus”. Então criou-se um ruído entre você e um outro ser humano.

Culturíssima: Isso do ateísmo é muito forte. Em uma reunião de família, ou encontro entre amigos, as pessoas ficam mais chocadas com alguém dizendo que não acredita em deus do que com alguém que faz uma piada racista.

Marcos Piangers: É incrível, cara. Tem um modus operandi que ninguém enxerga. Eventualmente alguém enxerga e diz não, espera aí, está errado essa piada racista. Acho que é estranho todo mundo que acredita em deus ser extremamente agressivo com minorias, com negros, com mulheres… “Ah, mas eu sou moderado”. Tu é moderado porque uma cultura secular te ensinou a ser moderado, não foi alguém dentro da igreja que disse: galera, vamos desacreditar um pouquinho! Foi alguém de fora que disse que o universo não gira em volta da Terra, que a gente evoluiu. Sexo antes do casamento, camisinha, AIDS, pedofilia, foi alguém de fora que começou a bater nessas questões! Aí de dentro começaram a dizer “é, não, realmente, temos que nos readequar”. Não está escrito na bíblia: seja mais moderado. Na bíblia está escrito olho por olho, dente por dente, não coma camarão e trate mau os gays. Então é foda, a gente tem que evoluir. Eu quero estar do lado certo da história.

https://www.youtube.com/watch?v=xj-IO2kOHcI

Culturíssima: Um dos personagens que você faz no Pretinho e faz muito sucesso é o Almir, que é um cara super polêmico e conservador. O que você acha dos pensamentos do Almir e como o público absorve aquilo?

Marcos Piangers: Ele é esse brasileiro padrão, cara. Eu sou exatamente o contrário do Almir. Ele acha que para resolver a questão social, de segurança, você dá uma arma para cada pessoa e todo mundo pode matar. Ou seja, ele defende a barbárie, da gente poder se aniquilar, de quanto mais penitenciária melhor, quanto mais pena de morte melhor, quanto mais criança for presa melhor. Então ele defende essa visão. É óbvio que é uma forma de dizer o indizível, porque a comédia tem disso, de dizer o absurdo. E às vezes chega um e-mail que diz: é isso aí, concordo com o Almir, tem que matar todo mundo. E logo em seguida vem o Piangers e diz que é a favor do aborto, diz que é a favor de uma política diferente em relação às drogas. E isso eu aprendi com a mídia, na real as pessoas querem ouvir o que elas querem ouvir. Elas vão ler o Brasil 247 ou o Diário do Centro do Mundo se elas acreditam no Lula e na Dilma, e se elas vão ler os blogs que defendem o Aécio, ou a Veja e o Constantino, é porque elas querem ler aquilo. Não é o Constantino que forma opinião, é as pessoas que querem o Constantino para embasar as opiniões que elas têm. O Facebook mostra bem isso, a tua timeline vira o que tu acredita. Aí tu vai moldando, e todo mundo pensa que nem tu e o certo é aquilo ali. É incrível, o cara ouve o Almir e não percebe que é uma piada, que é um absurdo aquilo. É muito difícil o cara que ouve os dois lados e pensa “opa, por que acho isso, por que estou assim, vamos ouvir o outro lado…”  Acho que a coisa mais saudável que pode existir é mudar de opinião. Eu mudei, cara! Esse foi um ano em que entendi o feminismo. Eu entendia, aí entendi mais um pouco, aí entendi mais um pouco, só que nesse ano explodiu minha cabeça, velho! Caralho, agora entendi a parada! É uma questão de valor, do pouco valor que a gente dá para as mulheres, em tudo. A gente paga elas mau, faz piada com sogra, com mulher, com casamento, e estupra, violenta, bate na bunda, assedia, pornografia sempre tem uma mulher parada e um cara mandando ver. Então é uma cultura de desvalorização feminina.

“Acho que a coisa mais saudável que pode existir é mudar de opinião. Eu mudei, cara! Esse foi um ano em que entendi o feminismo. Eu entendia, aí entendi mais um pouco, aí entendi mais um pouco, só que nesse ano explodiu minha cabeça, velho!”

Culturíssima: O Pretinho é um grande produto comercial. Como vocês decidem quando vai surgir uma peça de teatro, um game, uma camiseta, etc?

Marcos Piangers: Qualquer marca de sucesso pensa em se desdobrar para tentar explorar novos mercados. É isso o que a gente sempre faz, é uma obrigação do Pretinho experimentar o mercado de licenciamento de games, de teatro, de eventos, para testar e ver se tem saída. Teatro deu muito certo, a balada teve seu tempo, deu certo e a gente não faz mais, o game foi um sucesso absurdo. Então a gente tenta desdobrar para explorar novos mercados. Mas é incrível como o programa na rádio tem muito sucesso, o blog tem um pouco menos de sucesso, aí o teatro tem um pouco menos que o blog, então as coisas vão diminuindo, o que puxa mesmo é o programa de rádio, ainda.

Culturíssima: Existe um confronto de qual marca deve ser a maior: Atlântida ou Pretinho Básico?

Marcos Piangers: Tem essa divisão. Mas o Pretinho ultrapassou o tamanho da Atlântida. Na minha opinião e na opinião do mercado. Hoje o programa é 60% do faturamento da rádio. Agora, a gente se questiona, e se o Pretinho estivesse em outra rádio? E se não tivesse em rádio nenhuma? Se fosse licenciado para qualquer rádio? A gente tenta entender o mercado e se manter relevante.

Culturíssima: Como processo pessoal, você pensa em algum momento sair daqui e ir trabalhar no eixo Rio-SP, por exemplo?

Marcos Piangers: Tem um cara chamado Ricardo Semler, que é muito massa. Ele tem um livro que é o Virando a Própria Mesa, e ele fez uma revolução na empresa do pai dele, e ele tem um conceito que gosto que é o dos três porquês. Basicamente eu amo startups, amo a cultura de startups, amo a forma que elas crescem, trabalham, efetivam mudanças e colocam ideias pra rua. Então uma época eu queria morar na Suécia e trabalhar no Spotfy. Gosto muito do Snapchat, queria muito conhecer lá dentro como é o processo, e aí: por quê eu quero isso? Porque eu quero aprender mais. Mas por quê aprender mais? Acho um puta aprendizado se perguntar isso. Então eu quero ir para São Paulo, pensei muitas vezes em ir pra lá, pro Rio, pra Nova Yorque, pra Suécia. Porque quero aprender mais, entender novas culturas, conhecer novas pessoas e, assim, lá no final, é por causa das minhas filhas. Lá no final, quero o melhor para as minhas filhas. O meu maior sonho é poder trabalhar fora do Brasil hoje, porque está muito perigoso aqui. A gente não percebe, mas a gente vive na África, um país que arrota um desenvolvimento que não tem. A gente queima ônibus e tem zika vírus, e não tem escola, espanca motorista de Uber. A gente está fodido, cara. Saiu o ranking há pouco tempo e Porto Alegre está entre as 40 cidades mais violentas do mundo. Então eu gostaria muito de ir para um lugar mais seguro.

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