Uma conversa com Fernando Rosa, curador da 6° edição do festival El Mapa de Todos

Foto: Programa Nome na Lista / Reprodução Facebook

Foto: Programa Nome na Lista / Reprodução Facebook

Luiz Paulo Teló

Nos dias 12, 13 e 14 acontece em Porto Alegre a 6° edição do Festival El Mapa de Todos, atualmente uma das principais plataformas de integração da música brasileira e o universo cultural ibero-americano. Esta semana conversamos com o jornalista Fernando Rosa, curador do festival e que, desde 1998 quando criou a Revista Senhor F, é um dos nomes mais importantes no meio da música independente no Brasil.

Uma espécie de holding indie, de lá pra cá, sempre com presença marcante nas cidades de Brasília e Porto Alegre, a marca Senhor F virou portal de notícias, selo musical, produtora, sempre lançando novos nomes e buscando criar um movimento de integração. Em 2015, o El Mapa de Todos será realizado integralmente em teatros: Theatro São Pedro, Salão da Atos da UFRGS e Centro Histórico-Cultural Santa Casa. “Não é a negação da casa de shows, ou de espaços abertos, mas uma opção por ambientes que propiciem uma maior cumplicidade”, explica Fernando Rosa.

Além de artistas brasileiros, o público poderá conferir shows vindos de Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia. “Neste ano, realizamos nosso objetivo, reunindo Vitor Ramil, Milongas Extremas e Onda. Ou seja, no mesmo palco artistas das três cidades emblemáticas dessa integração, digamos, mercosulina”, destaca o curador.

Confira abaixo, na íntegra, a nossa conversa com Fernando Rosa e, na sequência, o serviço completo e programação para a 6° edição do Festival El Mapa de Todos.

Culturíssima: Vocês divulgaram com muita efusividade a presença do Vítor Ramil no festival. Qual o significado de ter este artista na sexta edição do El Mapa?

Fernando Rosa: Sempre quisemos ter o Vitor Ramil em nossa programação. Para o festival, é um nome simbólico do que acreditamos. Ele representa o intercâmbio concreto, cultural, musical da região, em especial do Pampa. Neste ano, realizamos nosso objetivo, reunindo Vitor Ramil, Milongas Extremas e Onda. Ou seja, no mesmo palco artistas das três cidades emblemáticas dessa integração, digamos, mercosulina.

Culturíssima: Essa integração mercosulina a que se refere, você sente que é recíproca, ou seja, há esse transito de artistas brasileiros nestes países?

Fernando Rosa: Olha, do ponto de vista do consumo, antes havia mais, digamos, por conta do tango, familiar nas casas da classe média brasileira. Por outro lado, temos uma cultura musical com gêneros e ritmos, como a milonga, por exemplo, que transita entre as fronteiras. Nos anos mais recentes, com a internet, a produção independente intensificou esse processo de aproximação. Temos exemplos de artistas uruguaios como Jorge Drexler, ou argentino, como El Mató a Un Policía Motorizado, que circulam pela região e pelo Brasil.

Culturíssima: Por que este ano o festival acontecerá em teatros?

Fernando Rosa: A opção por teatros busca dar mais conforto para o público, e também permite uma audição mais qualificada dos artistas. O próprio espaço, de certa forma, impõe outro tipo de relação entre artistas e público, outra percepção da música. Não é a negação da casa de shows, ou de espaços abertos, mas uma opção por ambientes que propiciem uma maior cumplicidade. O objetivo do festival vai além do espetáculo musical.

Culturíssima: O público de Porto Alegre tem sido receptivo aos artistas de fora nesse tempo todo?

Fernando Rosa: Sim, o público de Porto Alegre tem sido receptivo, tanto que chegamos na sexta edição do evento, contando com o apoio da Petrobras, um patrocinador cultural exigente. Por outro lado, desde o ano passado, estamos ampliando o alcance regional do festival. Neste ano, temos pessoas vindo de outros estados, e especialmente do interior do Rio Grande do Sul. Tanto pelos artistas, quanto pela realização dos shows na sexta-feira e no sábado.

Culturíssima: Você chegou a acompanhar o que fez a Bidê ou Balde, indo tocar fora e depois convidando as bandas para virem tocar aqui?

Fernando Rosa: Diretamente, não, mas foi o Thiago Piccoli que promoveu essas idas e vindas entre o Bidê ou Balde e artistas argentino. O Thiago Piccoli é um dos produtores do festival El Mapa de Todos, portanto, integrado nesse processo. A Bidê também participou de eventos em Lima, no Peru, como resultado dessa maior aproximação entre o artistas do continente latino. Ian Ramil e Apanhador Só também circularam pela região recentemente, de certa forma a partir da plataforma do El Mapa de Todos.

Logo El Mapa de Todos 2015

Culturíssima: Ao longo dos últimos anos, o festival nunca teve um formato definitivo. Como funciona pra ti o planejamento do próximo ano quando termina uma edição?

Fernando Rosa: Bem, nunca pretendemos ter um formato definitivo, mas sim avançar em busca de formatos adequados a cada momento. Iniciamos em casa de show, no caso o Opinião, com festivais em dias da semana. Por exigência do público, avançamos para o final de semana, assim facilitando a presença de pessoas de outros estados e do interior. O lineup vai sendo construindo no processo, a partir de várias fontes de informação, de sugestões, de pesquisa, da audição do que está sendo produzido em todos os países.

Culturíssima: Como está o projeto Noite Senhor F atualmente?

Fernando Rosa: Em estado de hibernação, digamos assim, por um tempo. Realizamos a Noite Senhor F por sete anos em Brasília, entre 2001 e 2008, e depois mais três anos em Porto Alegre. No ano passado e no início deste ano, organizamos o projeto Noite Senhor F – Conexão RS Independente. Por alguns meses, contribuímos para articulação de artistas e bandas em várias cidades do Rio Grande do Sul. Penso que a Noite Senhor F deu sua contribuição para a formação de um sem números de grupos nesses anos. O tempo passado não quer dizer que abandonamos a ideia de prosseguir com o evento. Esperamos apenas chegar a hora e o momento certo de retomar as atividades. No momento, o nosso foco é o El Mapa de Todos.

Culturíssima: O que você pode falar sobre a cena musical de Porto Alegre e Brasília hoje em dia?

Fernando Rosa: Olha, os músicos estão produzindo, buscando abrir novos espaços, reconstruir novas relações com o público. Observo que nas duas cidades, os espaços públicos para apresentações musicais tem crescido. As duas cidades tem tradição de revelar novos artistas nacionais, e isso vem ocorrendo. Talvez não na velocidade de momentos anteriores, mas tem gente compondo, gravando, como Almirante Shiva em Brasilia, e Baby Budas em Porto Alegre, por exemplo. As duas cidades também contam com grupos já consagrados na cena independente que seguem na ativa.

Culturíssima: Como que o jornalista Fernando Rosa tornou-se o Senhor F e como esse nome virou algo multiplataforma (site, revista, selo, produtora)?

Fernando Rosa: A transformação [risos] foi meio obra do acaso, mas também fruto de um histórico pessoal de ouvinte compulsivo de música com espírito de repórter. A então Senhor F – A Revista do Rock surgiu em 1998, quando a internet dava seus primeiros passos. Na época, era praticamente única em sua linha editorial, de resgatar a história do rock brasileiro, promover a nascente cena independente e dar toques legais do rock internacional clássico e atual. Dai, surgiu o selo Senhor F, em 2004, e a Produtora Senhor F, algum tempo depois. Aos poucos, a marca Senhor F transformou-se em uma espécie de “holding indie”, como brincavam alguns parceiros da cena independente. O Festival El Mapa de Todos teve sua primeira edição em 2008, em Brasília, e depois transferiu-se para Porto Alegre.

El Mapa de Todos 2015

Quinta-Feira | Theatro São Pedro (12/11)
21:00 – Vieja Skina (Peru)
22:15 – Lafayette & Os Tremendões (Brasil/RJ)
Plateia: R$ 40 | R$ 20 (meia-entrada)
Camarote Lateral e Central: R$ 30 | R$ 15 (meia-entrada)
Galeria: R$ 20 | R$ 10 (meia-entrada)
Bilheteria do Teatro São Pedro (telefone: 51 3227-5100) | Vendas online: compreingressos.com

Sexta-Feira | Salão da Atos da UFRGS (13/11)
21:00 – Milongas Extremas (Uruguai)
22:15 – Vitor Ramil (Brasil)
23:15 – Onda Vaga (Argentina)
(Ingressos Esgotados)

Sábado | Centro Histórico-Cultural Santa Casa (14/11) 
16:00 – Irmãos Carrilho (Brasil/PR)
17:00 – Ana Muniz (Brasil/RS)
18:00 – François Peglau (Peru)
19:00 – Alabê Ôni (Brasil/RS)
20:00 – Los Pirañas (Colômbia)
21:00 – Aluisio Rockembach (Brasil/RS)
(Entrada franca, por ordem de chegada)

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