Seu Jorge e Ana Carolina trazem novas versões de suas músicas ao Araújo Vianna

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Seu Jorge (esq.) e Ana Carolina (dir.) se apresentaram juntos em Porto Alegre pela segunda vez este ano.

Vinícius de Macedo, com fotos de Gabriela Baum

Ana Carolina e Seu Jorge mostraram, na última sexta-feira (14), no Araújo Vianna, um samba/mpb fantasiado. Era uma mistura de um lounge cheio de sintetizadores e de um batidão em algum lugar entre o pop de boate e o funk brasileiro. O som dos dois estava lá, e o show foi bom, embora os novos arranjos possam ser considerados desnecessários.

Há mais de dez anos Ana e Jorge fizeram um dos registros mais belos da mistura do samba com a MPB no show que cativou todo o país e que teve como principal sucesso o hit É isso aí, versão brasileira para a música Blower’s Daughter, de Damien Rice, trilha do filme Closer. O encontro trazia um som que era ao mesmo tempo minimalista e muito completo, como só a música brasileira pode ser. Um espetáculo definitivamente encantador e quase irretocável.

No entanto, para a turnê de 2016 a dupla trouxe uma série de experimentações. Os sucessos de Ana, Jorge e de muitos outros artistas compõem uma apresentação de duas horas, com 25 músicas, a maioria descaracterizadas por batidas eletrônicas que construíam desde uma atmosfera Kenny G até um psicodelismo pinkfloydiano. Seria fácil entender os novos arranjos e toda essa experimentação se Ana & Jorge estivessem em turnê juntos, apresentando as mesmas músicas, há 10 anos, mas ao contrário, fazia exatamente isso que eles não tocavam juntos. O público não estava afoito por uma experiência nova, ele queria mais do mesmo de uma mistura que ele não via há muito tempo.

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A música brasileira é um “material de exportação”, talvez o único elemento da nossa cultura que se aproxime do futebol a nível internacional. O destaque da canção tupiniquim é o ritmo, algo tão particular quanto o ditongo “ão” ou a própria palavra “saudade”. Em outras palavras, um elemento difícil de ser reproduzido por artistas internacionais. Logo em seguida temos a combinação de harmonia e melodia capaz de formar acordes verdadeiramente completos e que, apesar de sua complexidade, soam naturais mesmo para os ouvidos mais despreparados. É surpreendente perceber que com uma cultura jovem quando comparada à história europeia, e um nível de educação inferior ao resto do mundo, conseguimos fazer uma música tão elaborada, que pode ser sustentada apenas por voz e violão ou por um único pandeiro, como demonstraram Ana e Jorge na versão de Comparsas / O Pequenez e o Pitbull em 2005. Isso tudo sem falar na poesia fundamentada em uma das línguas mais complexas e cheias de possibilidades do planeta.

Mas de certa forma, tudo isso ficou escondido no show dessa turnê. De maneira geral o show empolga, mas muitas vezes o molejo brasileiro fica escondido atrás de tantos elementos artificiais. O espetáculo é bem planejado, começando com uma sequência de cinco músicas antes do primeiro boa noite, que é seguido de uma longa conversa em que os dois fazem uma retrospectiva bem humorada do que aconteceu no Brasil e no mundo desde a última vez que subiram juntos no palco. Então segue-se um grupo de músicas românticas incluindo É isso aí e Coleção, imortalizada na voz de Ivete Sangalo, para só então sentirmos aquela vontade incontrolável de levantar das dispensáveis cadeiras do Araújo Vianna com a dançante Cabide, de Mart’nália. Encaminhando-se para o final do show, Seu Jorge canta Zé do Caroço. Para essa música reserva um lindo solo de guitarra e uma declamação ainda mais linda sobre o orgulho negro, tema sempre muito necessário. O público levanta em definitivo para sambar Amiga da Minha MulherElevador e até Garganta, que ganha uma levada do tipo pancadão. No bis O Beat da Beata encerra o show com a vibe lá em cima, em uma apresentação com menos brasilidade do que se espera de uma mistura entre samba e MPB, entre Ana Carolina e Seu Jorge.

Fotografias por Gabriela Baum

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