Resenha | Vanessa Jackson faz tributo a Whitney Houston em Porto Alegre

Vinícius De Macedo Berghahn

A voz de Vanessa Jackson é um trovão. Vencedora do reality show “Fama” em 2002, a cantora, conhecida por sua potência vocal, demonstrou mais uma vez todo o seu talento na passagem do Tributo a Whitney Houston por Porto Alegre.

vanessa jackson cantando

Desde os tempos do programa da Rede Globo, Vanessa recheava todas as canções com seu estilo, marcado por uma projeção de voz poucas vezes vista na música popular e um gosto especial por vibratos. A técnica, que consiste em produzir oscilações na frequência da nota sem modificar sua altura, é um tempero interessante na música e demonstra um domínio avançado de técnica vocal. No entanto, cantar bem não significa saber fazer vibrato. A utilização ou não deste recurso é um mero tempero, e como todo tempero, se for exagerado, estraga a comida. E isso pode ser uma crítica em muitos casos, mas não aqui. O vibrato de Vanessa se encaixa como uma luva na música de Whitney Houston, é perfeito em todos os casos e em nenhum momento exagerado. Algumas vezes, é feito de forma tão natural que chega a passar despercebido, tamanho o domínio da técnica e a precisão de sua aplicação.

Vanessa entrou no palco para cantar uma das maiores divas do mundo e ao final da segunda música já recebia gritos de “gostosa”. Durante o show ela interage com a plateia, acena, fala sobre os filhos, desce do palco, aperta a mão e pede desculpa para “o pessoal do fundo e das alas superiores” por não poder chegar até lá: “por favor, não se sintam desprestigiados por isso, amo todos vocês” – diz a cantora. A presença de Vanessa no palco também é marcante, ela se movimenta bem, troca de roupas várias vezes durante o show, sem nunca perder a elegância, tal qual uma diva. Sem o distanciamento característico das grandes damas, Vanessa também é “povão”, tem aquele clima de “churrasco na laje”, de calor humano, de estar perto. No início do show ela avisa que vai ser intenso e que se quiser se atirar no chão de emoção pode se atirar. “Eu vou tirar foto com todo mundo no final” – promete ela, ainda se desculpando por não poder cumprimentar pessoalmente toda a plateia.

Vanessa Jackson em frente a banda no show tributo a whitney houston

Foto: Andy Santana/Divulgação

A banda é reduzida, apenas cinco músicos: guitarra, baixo, bateria, sax e teclado. De quando em quando um casal de bailarinos ocupa o palco ajudando a sustentar a cena e produzindo variações na dinâmica do espetáculo. Ambos são muito bem coreografados e não parecem perdidos, o que seria normal em função da dificuldade de preencher um grande espaço vazio com apenas duas pessoas e ainda dar algum sentido à sequência de movimentos. A dinâmica do espetáculo é muito bem conduzida alternando canções lentas e românticas com dance music, techno e mesmo algo de “Flashdance”, tudo muito bem pensado para não cair na monotonia, risco permanente de apresentações solo e que ameaça até mesmo vozes potentes e suas notas agudas. Fica a desejar uma maior presença do teclado, que não correspondia à destreza do músico e por vezes soava frágil como um toque monofônico de celular, não acompanhando satisfatoriamente a voz forte de Whitney. Em outros momentos, no entanto, buscava facilmente a sonoridade dos anos 80 e 90, que destaca os elementos eletrônicos como forma de evidenciar modernidade na música.

Final épico com I will always love you

Então chega a hora de “I will always love you”, maior sucesso da cantora e hino da década de 90. O momento que todos esperam, a música que todos querem ouvir. Ao anunciar a canção um senhor de meia idade na primeira fila se manifesta e Vanessa pergunta: “tu vai meter essa agora?”. Um casal sobe ao palco, ele recebe o microfone e enquanto ensaia um pedido de casamento é forçado pela noiva a se ajoelhar, levando a plateia às gargalhadas. Aceito o pedido, o casal desce para ouvir a música mais importante do show, que no momento é só deles. E Vanessa começa a cantar, a capella, como quem come um bombom recheado com chocolate derretido e o mastiga lentamente degustando cada mordida, cada sílaba, cada nota. A banda entra aos poucos como o prenúncio de algo grande, de algo maior do que a própria vida: “eu não sou o que você precisa, eu te desejo alegria, mas acima de tudo, eu te desejo amor, eu vou te amar para sempre”, é o que diz a música. Como no filme Casablanca, a história é de despedida, é uma canção de renúncia em favor da felicidade do outro e depois tem quem diga que o altruísmo não existe. Então o final épico, onde a voz potente de Whitney se faz mais tocante do que em qualquer outra música, não é uma celebração, é um lamento, mas é o único jeito. É um tributo, que agradece e glorifica a obra, mas ao mesmo tempo lamenta a morte da diva, apesar de saber de sua inevitabilidade.

O show termina com Vanessa convidando a plateia para dançar perto do palco, encerrando a apresentação com alto astral e intensa troca de energia. A música só para depois do fechamento das cortinas e o público deixa o teatro com a sensação de satisfação, de que a vida vale a pena ser vivida e que isso pode ser bem divertido, apesar de tudo.

 

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