Arthur Bispo do Rosário, o senhor do labirinto

Arthur Bispo do Rosário, O Senhor do Labirinto, tinha esquizofrenia paranoide e fazia miniaturas para representar a Terra para Deus. Isso é tudo o que é possível retirar da cinebiografia feita por Geraldo Motta baseada no livro de Luciana Hidalgo.

O filme nos apresenta um retrato da loucura e do trabalho de Seu Bispo, como era conhecido, mas não nos esclarece sua obra, como fazem a maioria das biografias, gênero tão comum por esses dias. Mas se tratando de arte, talvez esteja justamente aí a beleza.

arthur bispo do rosario veste manto para o juízo final

Arthur Bispo do Rosário em manto feito por ele mesmo para o dia de sua morte

Atualmente ouvir histórias de vida baseadas em fatos reais tem oportunizado as melhores bilheterias e best-sellers, as biografias são as novas galinhas dos ovos de ouro da indústria do entretenimento. A todo momento somos apresentados a trajetórias estimulantes de quem venceu obstáculos e alcançou reconhecimento. Gostamos disso. Gostamos disso, pois conhecer a história desses ícones é inspirador para que possamos superar os obstáculos das nossas próprias vidas. Mas como contar uma história de alguém sem passado? Como contar uma história de alguém que “simplesmente apareceu”? É assim que Arthur Bispo do Rosário apresenta-se em O Senhor do Labirinto.

Sem nunca ter ouvido falar do personagem assisti ao Senhor do Labirinto e fiz questão de não procurar nenhum material complementar. Assim, apenas com a informação contida no filme vim dividir as minhas dúvidas com vocês. Com a atuação marcante de Flávio Bauraqui e angelical de Maria Flor, o filme conta a história de um louco que acreditava ser representante de Deus na Terra e que desenvolvia representações da existência em forma de miniaturas que deveriam subir com ele aos céus. O detalhe é que Arthur Bispo do Rosário imprimia nessas miniaturas uma vasta carga cultural que o telespectador comum não sabe de onde veio. E se isso é contado em algum momento no livro que gerou o filme, eu fiz questão de não descobrir. Afinal, um filme que se propõe biográfico deve bastar-se.

veleiros em regata de arthur bispo do rosário

Miniatura de regata por Arthur Bispo do Rosário

A produção incessante do Senhor do Labirinto mostra que ele detinha diversos conhecimentos prévios, que vão desde a própria alfabetização até referências literárias como Romeu e Julieta, passando pela habilidade manual da qual dependia todo seu trabalho. Tudo isso era aplicado em uma obra de qualidade inegável e muito representativa. Encontramos nas miniaturas feitas com material rústico de difícil manipulação a união entre esquizofrenia e realidade. Uma concretização fantástica! Embora possamos perguntar como um louco conseguia materializar criações tão elaboradas a partir de tão pouco, há algo ainda mais intrigante: de onde veio a educação que possibilitava a criação de tal arte?

Ao optar por não ter contato com nenhum material complementar ficou a dúvida.  Mas como um dos grandes méritos de toda arte, especialmente a contemporânea, é nos fazer refletir, resolvi dividir isso com vocês.

De onde vinha a arte de Arthur Bispo do Rosário

Seria raso dizer que tudo veio de uma imaginação esquizofrênica. A própria ideia de canalizar a imaginação delirante para produção de algo já é uma iniciativa para poucos. Seria raso dizer que era uma forma de ocupar o tempo ou de aliviar as vozes dos anjos que Arthur Bispo do Rosário dizia ouvir em sua mente. Quantos na mesma situação passam dias e mais dias sem fazer nada? Seria clichê dizer que todo artista é louco. Bastaria dizer que tudo era uma forma de expressão assim como toda arte. Mas como falar que um esquizofrênico podia pensar em arte ou utilizar agulhas e facas sem imaginar que atentaria contra a própria vida?

Talvez haja resposta para tudo isso na biografia escrita, mas prefiro a dúvida. Os questionamentos fazem a arte ainda mais bela, algumas vezes, fazem até mesmo trabalhos virarem arte. A única certeza que gosto de ter é que Arthur Bispo do Rosário, o Senhor do Labirinto, simplesmente apareceu.

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