Resenha | A apresentação precisa do The Cult em Porto Alegre

No show de Porto Alegre o The Cult mostrou um vigor incomum para bandas do seu tempo. A apresentação foi curta, mas precisa. Bastante empolgante e muito intenso, o setlist de 14 músicas foi recheado pelos três principais discos da banda. Do disco novo, Hidden City, foram executadas três canções.

Foto: Gabriela Baum

Ao contrário da maioria dos grupos de sua época, o The Cult parece não ter sofrido com a idade. Mesmo com os problemas do vocalista Ian Astbury com álcool, que contribuiram para o ostracismo do conjunto nos anos 90, a vitalidade da performance é marcante. Expressiva parcela das bandas com mais de 30 anos que apesar das indas e vindas se mantêm vivas até hoje, apresentam sinais visíveis do abuso de “sexo, drogas e rock n’ roll”. Pensando por esse lado é difícil entender como o The Cult não se tornou uma banda de estádios.

Foto: Gabriela Baum

Desde 1984 foram dezenas de formações, ao ponto que apenas dois discos foram gravados consecutivamente com os mesmos integrantes. Além de Ian, o guitarrista Billy Duffy é o único membro original, mas isso não significa que não haja atrito, foi justamente um conflito entre eles que levou à dissolução completa da banda em 1994. Essa instabilidade somada a falta de identificação do grupo com um estilo pode justificar o fato do The Cult não estar no headline dos festivais. Predominantemente rotulado como hard rock, o próprio Ian diz não se identificar com esse estilo e já citou ter muito em comum com o grunge, por exemplo.

O reconhecimento do The Cult nos EUA começou em Seattle ainda em 1985, com o segundo álbum, Love. A banda tornou-se uma enorme influência para os jovens rebeldes daquela cidade que mais tarde dariam início ao grunge. Ian era amigo íntimo de Chris Cornell (Soundgarden) e Andrew Wood (Mother Loves Bone), um promissor vocalista que morreu de overdose antes de chegar ao estrelato. A fatalidade levou ao nascimento do Temple of the Dog, supergrupo formado por Chris com os membros da Mother Love Bone que contava ainda com Eddie Vedder nos vocais de apoio. O líder do Soundgarden, falecido em maio/17, foi homenageado por Ian no show do The Cult em Porto Alegre.

Foto: Gabriela Baum

A versatilidade de Ian é um dos motivos de discussão com Duffy, o vocalista afirma que às vezes é preciso testar coisas novas para descobrir no que você é melhor. Filosofia que não era compartilhada pelo guitarrista e acabou trazendo problemas para o grupo nas gravações do terceiro disco, Electric. No entanto, o mesmo pensamento levou à criação do Festival Gathering of The Tribes, que inspirou o Lollapalooza.

Nem os grandes feitos da carreira de Ian, que incluem a enorme responsabilidade de substituir Jim Morrison na reunião do The Doors nos anos 2000, permitiram que o The Cult alcançasse o mesmo tamanho de grupos de hard rock como Guns n’ Roses e Kiss. Mas quem se importa? A performance da banda ao vivo é tão intensa que faz uma hora e meia de show parecer mais de duas, não deixando faltar nada, nem hits, nem empolgação.

Fotos: Gabriela Baum

 

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