Resenha | Elegância e bom gosto no show dos Pet Shop Boys em Porto Alegre

A elegância dos Pet Shop Boys foi, sem dúvida, o elemento mais marcante do show da banda em Porto Alegre. Tudo no show da dupla é muito bem pensando, incluindo movimentação de palco, figurino, iluminação e projeção, formando um espetáculo bonito e de muito bom gosto.

Foto: Edu Defferrari

Quase tudo que se conhece por “anos 80” tem a mão inteira dos Pet Shop Boys, desde a batida até o visual clubber. O talento da dupla é inegável, poucos artistas no mundo tem habilidade para fazer um cover parecer uma música própria e mesmo assim manter a identidade da canção como eles fizeram com Always on My Mind, sucesso na voz de Elvis Presley. Menos artistas ainda conseguem trabalhar com tanta gente diferente como Madonna, Liza Minelli e David Bowie. No show de Porto Alegre foram 5 músicas do álbum novo, “Super”, e uma super festa de luxo que tinha como DJ residente os Pet Shop Boys. A destreza e a perícia da dupla faz parecer fácil construir a sonoridade cheia de minúcias feita ao vivo por eles. Mas enquanto os hits se sucediam impressionava também a ambientação da balada.

Foto: Edu Defferrari

Os Boys são conhecidos por criarem suas apresentações com artistas de primeira linha como o cineasta inglês Derek Jarman (42-94), diretor de It’s a Sin, Rent e dos filmes projetados na primeira turnê do PSB em 89; o diretor de ópera David Alden (49-) na criação do show da primeira turnê mundial da dupla, “Performance,” de 91; David Fielding (63-), que além de colaborar em Performance fez o clipe de Go West; a renomada arquiteta iraquiana que projetou o palco da turnê de Nightlife (99/00), Zaha Hadid (50-16); e Sam Taylor-Wood (67-), cineasta inglesa que dirigiu 50 tons de cinza e trabalhou com os Boys no show “Somewhere” em 97.

A turnê Super dos Pet Shop Boys que passou por Porto Alegre já havia deixado os fãs pasmos nos EUA e na Europa com o esplendor de seu visual. O show foi concebido por Es Devlin, a diretora criativa da turnê; e Rob Sinclair, o iluminador. Ambos já haviam trabalhado com Neil Tennant (vocal) e Chris Lowe (teclado). A diretora conta que Neil e Chris conceituaram Super como “a profundidade que reside na superfície” e foi com base nisso que ela criou o design do show. Após ter a música e o conceito Es sugeriu algumas imagens, referência e rascunhos para então trabalhar com a sua equipe em um design preliminar. Segundo ela, a primeira ideia é orçada e adaptada, por que geralmente é financeiramente impossível. “Com frequência as ideias iniciais são maltratadas e submetidas as brutalidades das grandes turnês e seus parâmetros. Contudo eu aprendi a me manter fiel à intenção fundamental do design quando as ideias supérfluas são dispensadas durante o processo, o que normalmente leva a resultados simplificados”. O que nesse caso não é necessariamente ruim.

O processo de criação é totalmente livre, mas invariavelmente requer adaptação, pois existem limites de verba e de logística. A estrutura de palco de turnês mundias como a dos Pet Shop Boys precisa ser fácil de transportar, montar e desmontar. Essas restrições acabam por forçar a criatividade da diretora, que precisa arranjar maneiras de tornar sua ideia viável. Para isso o talento é fundamental, pois é necessáiro cortar excessos sem afetar a ideia inicial. Ou seja, apesar dos transtornos que isso pode causar, o processo de implementação ajuda a eliminar exageros que poderiam distrair a atenção do público ou tornar o visual pesado, obrigando a criação de uma solução simples mas de grande impacto.

A concepção visual de um show é sempre um esforço colaborativo. Devlin trabalhou todo o tempo em contato direto com o iluminador Rob Sinclair assim como com o programador de luz Ben Cash. Contribuem ainda para o time o diretor de palco Lynne Page e o estilista Jeffrey Bryant. O iluminador Rob Sinclair atribui todo o trabalho pesado ao programador de luz Ben Cash, responsável pela programação e marcação de tempo. Rob também atribui os créditos de seu trabalho ao diretor de luz Jon Barker. A iluminação inteira da turnê de Super do Pet Shop Boys é pré-programada. O tempo de combinação entre luzes, vídeos e lasers era tão curto que jamais poderia ser controlado manualmente.

Os anéis de LED utilizados haviam sido vistos apenas brevemente na Royal Opera House de Londres, uma das casas de espetáculo mais tradicionais do mundo, fundada em 1946. São eles o responsáveis pela bela e ampla difusão de cores atrás dos músicos. A opção por esse tipo de LED usou boa parte do orçamento mas permitiu fugir do comum e ao mesmo tempo colocar o show na estrada. Canhões de luz e painéis de LED também ajudaram na criação do espetacular campo de cor da apresentação. Para que isso fosse possível foi fundamental também a contribuição do diretor da turnê Andy Crookston responsável pela logística e de Mike Bowerman, chefe da equipe de luz.

Projeções de show são sempre perigosas, mas a regra básica é deixá-las serem rainhas quando precisam ser, atenuando todos os demais elementos e evitando a competição com luzes e lasers. Os vídeos do show são exibidos por seis projetores que podem receber diferentes combinações de lentes conforme as dimensões do palco de cada cidade por onde a turnê passará. O trabalho de marcação de tempo de vídeo, do qual dependem todos os outros departamentos; e a configuração dos servidores que rodavam o conteúdo foi trabalho de James Adkins, o diretor de vídeo da turnê, responsável por “rodar” as ideias do diretor criativo Jack James.

No entanto, o elemento que mais chama a atenção na turnê Super dos Pet Shop Boys apresentada em Porto Alegre é a quantidade de laser. Quase no limite do exagero, mas sem perder o bom gosto, a disposição dos lasers foi trabalho de Andrew Turner. Para dar aos anéis de LED o brilho e o acabamento difuso foi preciso sincronizar o sistema de laser e o de LED, controlando os reflexos para criar a impressionante simulação de aura solar vista no palco. Desempenhado lindamente pelo técnico de laser Tom Vallis o efeito criado é um balanço perfeito entre instalação artística e ambientação de show pop. Uma festa anos 80 para ninguém colocar defeito.

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