Resenha | Green Day celebra o rock com o suor da plateia em Porto Alegre

O que mais chamou a atenção no show do Green Day em Porto Alegre foi a empolgação. Mas apesar de levar o público a dançar, pular, fazer roda punk e até se ajoelhar no chão, o vocalista Billie Joe diz que o show deles não é uma festa, é uma celebração.

Foto: Istvan Milos

A animação do Green Day ao entrar no palco provocou na plateia uma resposta efusiva que durou até o final das quase três horas de show. Enquanto frontman, Billie Joe tem um jeito muito particular de levantar a galera. Diversas vezes ao longo da apresentação ele curva-se em direção ao público e abre os olhos de forma provocante e ansiosa, como quem procura algo que sabe estar escondido ali. Existe alguma coisa hipnotizante no olhar do vocalista que parece sempre questionar: “vocês estão aí? Vocês estão sentindo isso? Venham comigo. Cadê vocês? Quero sentir a energia de vocês”. Em resposta a plateia deixa-se dominar e contagiada entrega-se, determinada a arrancar de dentro de si até a última gota de suor.

Roberto Serra/Getty Images

Estar em um show do Green Day é fazer parte de algo maior. Você não precisa ser fã da banda para se sentir integrado, precisa apenas ser fã de rock. O show deles é, na verdade, uma ode ao rock n’ roll, uma celebração a algo maior do que nós mesmos, a uma das culturas mais viscerais, que reúne pessoas de todas as raças, credos e nacionalidades, governada por um único espírito de amizade motivado pelo soar da primeira nota, do primeiro acorde, do primeiro riff! Era assim aqui em Porto Alegre, em tempos de casas como o Dr. Jekyll e o Garagem Hermética, tempos tão remotos que alguns chegam a duvidar que eles existiram, pois nem mesmo os lugares onde esses momentos aconteceram sobrevivem.

Reprodução Twitter

No frenesi do show a frase “it’s not a party, it’s a celebration” é um dos momentos de maior sensibilidade, mas também é possível sentir-se parte de algo maior quando a pista inteira se abaixa em resposta à banda, que deitada no palco tocava um medley de covers incluindo Hey Jude, causando um momento de integração, suspense e até de relaxamento na plateia. Aliás, o set agitado era muito bem equilibrado com músicas mais leves para que fosse possível renovar as energias antes da próxima explosão. Durante as canções menos empolgantes foi possível ver a agitadíssima roda punk formar uma espécie de “fila indiana” e deixar os chutes e cotoveladas de lado para ficar apenas correndo em círculos, sem nunca esfriar. Em outro momento tocante foi possível dividir com a banda a mesma energia, no caso, indignação, em relação as condições políticas adversas, o episódio da imagem aconteceu em Curitiba, mas não foi muito diferente em Porto Alegre.

Tradução: “Eu não tenho ideia do que isso significa, mas eu sinto! Fora Donald Trump!”

O show do Green Day em Porto Alegre foi uma mistura de sentimentos, desde agitação e comunhão do rock, até momentos delicados promovidos por, quem diria, o pessoal da roda punk. Mas nenhum deles sintetiza melhor o espírito do Green Day e a noite do dia 07 de novembro de 2017 no Anfiteatro Beira-Rio do que quando, em um daqueles momentos em que todos estão mais preocupados em filmar e fotografar do que pular, sedento pelo suor da plateia, o vocalista pede: “abaixem os celulares. Eu quero olhar nos olhos de vocês”.

Reprodução Twitter

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