Resenha | O show inspirador do Bon Jovi em Porto Alegre

Em mais de duas horas de show em Porto Alegre Bon Jovi mostrou que é possível ter muita energia com 55 anos e mais do que empolgar, dividir amor com a plateia. Diante de um Beira-Rio quase lotado a banda apresentou 23 músicas, incluindo hits que não estavam entre as mais tocadas da turnê mas que todos rezavam para ouvir conforme mencionamos no preview do show. No entanto, apesar de acrescentar ao set In These Arms, Bed Of Roses, Lay Your Hands On Me e uma versão acústica de Someday I’ll Be Saturday Night, Bon Jovi não cedeu aos pedidos de “Always” da plateia.

O mais impressionante do show é ver a entrega do vocalista. Apesar da idade ele continua com uma disposição de guri. Durante todo o espetáculo Jon pula, dança e gesticula como se fosse o primeiro e o último show da vida dele. A empolgação pode ser comparada à de uma banda iniciante que começa a fazer sucesso e deslumbrada com o mundo de possibilidades que vislumbra celebra a cada minuto uma nova conquista. Ou de uma banda que faz o último show da carreira e deseja celebrar sua trajetória junto ao público sem nem mesmo pensar na despedida como um momento de tristeza, entregando-se ao show como quem recebe um vendaval de vida ao trocar uma energia intensa com a plateia para relembrar momentos felizes da carreira e sorrir novamente com eles.

A entrega de Jon é perceptível também quando ele sorri. O sorriso de Jon não é belo só por que ele é bonito, é belo porque é um sorriso honesto. Quando ele sorri podemos ver verdade em seu rosto, satisfação, uma alegria imensa em estar ali e fazer o que faz, assim como em receber tanto amor da plateia. Podemos ver um sorriso humilde de quem se identifica com o público, é como se ele estivesse nu e pudéssemos ver através dele, todos os sentimentos resumidos em um único sorriso, que não é apenas uma expressão de simpatia, mas que mostra o cara por trás da estrela multimilionária do rock. Jon Bon Jovi se mostra presente de corpo e alma no show a cada vez que abre os braços curtos num gesto de quem está de peito aberto para dar um abraço e com o coração vulnerável para receber o amor da plateia. Cada vez que estende o braço para frente, gesto que repete muito, parece ser possível tocar sua mão e trocar bons fluidos com ele, contato que é concretizado durante Bad Medicine, última música antes do bis, quando Jon desce do palco para se conectar fisicamente aos sortudos da primeira fila.

Se você der uma olhada rápida na Wikipédia verá que o vocalista não alcança notas altas desde Slippery When Wet, o primeiro disco de sucesso da banda, lançado em 1986, portanto essa não é uma crítica válida. Se você for a qualquer show em qualquer lugar de Porto Alegre, ouvirá acústicas horríveis, com exceção do Estádio do São José, então julgar o som também não é uma crítica válida. De mais a mais, Bon Jovi já foi eleito melhor show do ano três vezes e a quantidade de semifusas por segundo que um guitarrista consegue executar não deve estar entre os principais critérios para isso. O que vale num show é a presença do artista, é ver de perto aquela pessoa que tantas emoções nos fez sentir, é sentir novas emoções vendo as canções que mais gostamos serem executadas ao vivo mesmo que hajam erros, pois eles apenas tornam nossos ídolos mais humanos, mais próximos de nós e menos intocáveis.

O show do Bon Jovi em Porto Alegre foi dedicado para quem mantém o coração aberto como uma estrada sem pedágio ou rotatória. É uma verdadeira celebração do amor. Não exatamente o amor dos casais, mas o amor pela vida. O amor como uma espécie de religião que todos deveriam seguir, uma religião como o rock n’ roll, um estilo de música visceral e totalmente apaixonado, que nos acalma e nos dá energia para continuar, que nos inspira para enfrentar a chatisse de um dia a dia soterrado por pessoas muito ocupadas para se divertirem, mas com tempo suficiente para reclamar, que acabam perdendo toda a estimulante experiência da vida fiscalizando se o artista ainda alcança notas agudas.

Fotos: Edu Defferrari

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