Escola de Espectadores de Porto Alegre e a formação do público de teatro

Escola de Espectadores de Porto Alegre (EEPA) é um projeto da prefeitura que desde 2013 ajuda a formar um público crítico de teatro na cidade. As aulas acontecem quinzenalmente das 10h ao meio-dia, no Teatro de Arena (Borges de Medeiros, 835) e são abertas ao público. Não é necessária matrícula, não há pré-requisitos e todas as atividades são gratuitas. Os interessados podem passar a frequentar a escola a qualquer momento.

Cada encontro é baseado em uma peça em cartaz na capital que serve de ponto de partida para a abordagem de questões técnicas e históricas que irão contextualizar o que é visto em cena aprofundando o entendimento. Estimulados a assistir a peça no teatro, os alunos participam de sorteio de ingressos ou podem ganhar descontos. Com frequência trechos do espetáculo são encenados durante a aula e debatidos em seguida.

A ideia foi inspirada na Escola de Espectadores de Buenos Aires, criada em 2001, pelo pesquisador, teórico e crítico Jorge Dubatti. Iniciativa da Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, o trabalho na EEPA é coordenado pelo jornalista e escritor Renato Mendonça, editor de teatro do jornal Zero Hora entre 1994 e 2010 e Prêmio ARI de melhor reportagem cultural em jornalismo gráfico em 2005.

representação digital de plateia

“Quem não sabe o que busca, não identifica o que acha”. A frase de Kant define bem a função da Escola de Espectadores de Porto Alegre. A contínua busca por respostas do ser humano é o ponto de partida de toda arte. A real intenção de tudo o que se escreve, pinta, desenha, esculpe, grava, filma, interpreta, dança, canta, toca ou compõe é expressar aquilo que não se consegue entender internamente ou a simples necessidade de extravasar e compartilhar sentimentos para não explodir.

Toda peça exerce uma função, foi escrita por algum motivo e sua encenação vai além do que está no palco. Sendo assim, o enredo de um espetáculo é sem dúvida melhor compreendido quando a plateia entende o contexto histórico no qual ele foi escrito, as referências utilizadas, conhece a história do autor e até mesmo dos atores. Estes e inúmeros outros fatores extra palco contribuem para o bom entendimento do que está sendo visto. É este tipo de conhecimento, tanto técnico quanto histórico que a Escola de Espectadores de Porto Alegre tenta transmitir.

Experiência similar foi realizada em 1997 com a Oficina para Formação de Plateia. Luiz Paulo Vasconcellos, coordenador de artes cênicas da Secretaria Municipal de Cultura na ocasião da oficina, cita Fernanda Montenegro para exemplificar os desafios do teatro: “Tudo nos atrapalha, a instabilidade econômica, o calor, os temporais, a falta de luz, de água, as férias escolares, as festas natalinas, o Carnaval, o início das aulas, a Semana Santa, as eternas crises políticas. E sobretudo: a não necessidade de ver teatro – que o brasileiro tem”. Trazendo para a realidade do Rio Grande do Sul, Vasconcellos acrescenta: “O frio, a incompetência das autoridades municipais na manutenção dos teatros e, pior ainda, a mediocridade, o lugar-comum, a autoajuda, as comédias insossas que tomaram conta de nossos palcos.”

O coordenador de artes cênicas da Secretaria da Cultura e Especialista em Teatro Contemporâneo, Breno Ketzer Saul, salienta: “a longo prazo, essas novas informações – aliadas ao poder multiplicador dos alunos – podem interferir em comportamentos arraigados, como o costume do público de aplaudir espetáculos sempre de pé, diferentemente da plateia de outros países, que se levanta apenas quando julga a atração fora de série.”

A agenda da Escola de Espectadores de Porto Alegre pode ser acompanhada pela página: facebook.com/escoladeescpetadorespoa

Confira a programação dos teatros de Porto Alegre 

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