Morrodália celebrou diversidade e resistência

Morrodália, seis dias intensos de diversão e troca em uma ilha de utopia em meio ao fracasso humano.

Texto de Diego Rosinha, direto de Balneário Ouro Verde

A união dos festivais Psicodália e Morrostock foi um sopro de ar puro na atmosfera podre e obscura pela qual passa o País. Isso porque a parceria de dois dos principais festivais independentes do País deu origem ao Morrodália, que reuniu 20 atrações e um público de mais de mil pessoas no Balneário Ouro Verde, em Santa Maria/RS, entre 21 e 26 de fevereiro. Com um lineup diverso, o evento contemplou pelos menos 50% das bandas com mulheres e foi muito além do discurso, para ser local de resistência contracultural na prática.

Uma das iniciativas que mais chamou a atenção foi a criação de listas para pretos, pretas e transexuais, públicos que mais têm sofrido com o atual momento brasileiro, de proliferação do fascismo e todos os pré-julgamentos. “A gente percebeu que não adiantava diversificar o palco, os artistas, e não ter nenhuma ação efetiva para diversificar também o público. A gente sabe que no sul do País, mais especificamente no Rio Grande do Sul, pretos e pretas, assim como a comunidade LGBT, têm mais dificuldades no campo das oportunidades. Desta forma, fechamos parcerias com os coletivos TRANS Enem, Porongos e Bajubá e concedemos ingressos a 50% para esses públicos”, explicou o organizador do evento, Paulo Zé Barcelos. Segundo ele, o feedback foi muito bom e o aprendizado deixado para os próximos festivais também, já que a iniciativa deve ser repetida. 

Mais pretos, mas ainda branco demais. Até pelo pouco tempo de divulgação – o festival começou a ser divulgado em dezembro, após o Morrostock -, o público dessas listas não ultrapassou 100 pessoas, o que não deixou de ser significativo, já que em festivais anteriores muito mais raros eram os rostos pretos, conforme relato da Bia Ferreira, que foi atração em 2018 e tocou neste ano com a Doralyce. “Há dois anos, vi dois ou três pretos no Morrostock. Nesse ano, já vi muito mais”, comemorou, ressaltando que o caso deveria ser estudado e repetido Brasil afora, como forma de inclusão desses públicos em festivais, para que exista uma “resistência de fato”. 

Morrodália – Bia Ferreira e Doralyce

Festival

Em três palcos, a segunda edição do Morrodália – a primeira parceria Morrostock-Psicodália aconteceu no pré-carnaval de 2019 – trouxe atrações como Perotá Chingó (ARG), Cuatro Pesos de Propina (URU), Idrissa Diop (SEN), Francisco, el hombre,  Doralyce part. Bia Ferreira, Bloco da Laje, Graforréia Xilarmônica, Wander Wildner, Braza, Potyguara Bardo, entre outras. 

Foram seis dias intensos de diversão e troca em uma ilha de utopia em meio ao fracasso humano. O Morrodália nasceu da necessidade de preencher o espaço do Psicodália, tradicional festival alternativo que acontece em Santa Catarina desde 2006 e que não ocorreu neste ano (em 2021 já anunciou edição entre 12 e 17 de fevereiro, em local a definir). 

Peso

O Morrostock ainda terá uma inédita edição de peso nos próximos dias 28 e 29 de março, também no Balneário Ouro Verde. “Desde 2014 não fazíamos um Morrostock de peso em área rural, com acampamento. Vai ser muito legal”, projeta Paulo Zé, que é baterista e vocalista de uma das atrações confirmadas no evento, a banda de hardcore/punk No Rest. 

A grande atração do Morrostock de Peso será a Terveet Kädet, lendária banda punk finlandesa formada na década de 1980, que influenciou nomes conhecidos do punk tupiniquim, como Cólera, Olho Seco, Ratos de Porão e Lobotomia.  Além do quarteto finlandês e da No Rest, o festival reunirá nomes representativos do punk gaúcho, como Tijolo de Seis Furos, Discrença, Estado Terminal, Exclusão Social, entre outros. Os ingressos têm preço único de R$ 66 para os dois dias, com acampamento incluso. Mais informações em http://bit.ly/2TPXoXA

Adicionar a favoritos link permanente.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *