Resenhas Oscar 2019 | A Favorita

“A Favorita”, de Yorgos Lanthimos

Por João Rosa para o Especial Oscar 2019

Um enorme palácio abriga uma rainha que sofre com feridas intermináveis nas pernas. Ela tem uma cuidadora muito íntima sempre na sua volta, dando todo o carinho e atenção, mas claro, sempre que pode dizendo umas boas verdades, como comparar a maquiagem dela a um texugo, animalzinho de perna curta e com manchas no rosto. Certo dia, uma jovem chega ao local a fim de concretizar a oportunidade de emprego servindo a corte. Dali em diante, tudo passa a mudar drasticamente sob o teto real.

A Favorita, de Yorgos Lanthimos (O Lagosta), é o filme mais “diferentão” do Oscar 2019, que acontece no domingo próximo. Com planos abertos e na maioria das vezes americanos contra-plongée, o longa possui uma beleza impressionantemente melancólica, um pouco devido a posição das câmeras, mas muito por causa das cenas internas, em sua maioria nos aposentos da rainha Anne, interpretada brilhantemente por Olivia Colman (Assassinato no Expresso do Oriente).

Concorrendo a melhor atriz, a inglesa dá um show de atuação melodramática e obsessiva, o que faz a intérprete ser a primeira opção para a Academia, caso Glenn Close ou Lady Gaga tenham problemas estomacais e não possam comparecer ao Dolby Theatre no final de semana. A atuação da artista é tamanha que nos faz imergir com tudo para dentro de uma rainha solitária, problemática e confusa, cheia de mistérios guardados dentro de si.

Na segunda linha de atuações, temos duas atrizes premiadas de primeiro nível: a também britânica Rachel Weisz (O Lagosta), que vive Lady Sarah e a estadunidense Emma Stone (La La Land), que vive a ambiciosa e desmedida sem limites Abigail, prima distante de Sarah que surge a fim de conseguir um emprego no casarão da realeza. Com uma expertise sem igual, a jovem vai conquistando aos poucos a rainha Anne, o que deixa sua prima com um ciúme do tamanho do castelo ambientado no século XVIII. O que percorre na história a partir deste instante é uma sucessão de momentos absurdos envolvendo as três mulheres.

Aliás, a força feminina do filme é algo a ser perceptível em meio a bagunça do ambiente. Com uma atuação brilhante, a personagem de Weisz nos mostra uma certa maturidade, inclusive no meio de suas derrotas. Onde está escrito que é preciso chorar para demonstrar suas emoções? A atuação secundária da atriz faz jus a sua indicação a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante. Já a interpretação de Stone fica por conta da mudança fulminante da sua personagem. Por mais que a menina já tivesse em mente suas ambições, ela faz questão de se envolver numa rede de intrigas e a se tornar uma manipuladora nata.

Como filme de época, A Favorita, que concorre a 10 estatuetas, apresenta todo um visual, que de minuto a minuto nos faz imaginar que não estamos vendo uma película, e sim um quadro produzido pelo melhor artista dos tempos retratados. Figurino (fortíssimo candidato a prêmio), acessórios minuciosos, e locações das filmagens, também acabam transmitindo toda a ostentação da corte inglesa num período onde era normal ser estuprada pelo fato de ser mulher e/ou ser chicoteada apenas por questionar uma ordem superior.

Nota: 7.0

Concorre nas categorias: Melhor Filme, Diretor, Atriz e Atriz Coadjuvante (duas indicações), Roteiro Original, Edição, Fotografia, Figurino, Direção de Arte.

Prováveis estatuetas: Roteiro Original, Fotografia, Figurino e Direção de Arte.

João Rosa é jornalista e produtor cultural, tem 28 anos e é apaixonado por cinema. Em 2017, trabalhou na cobertura do Festival de Cinema em Gramado para o Culturíssima e novamente assina a série de textos especiais sobre os filmes indicados ao Oscar 2019.

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