Morrostock celebra diversidade, de públicos e de sons

Banda a Cores de Aidê, representatividade da luta do povo negro e pelo espírito antirracista (foto: Diego Rosinha)

Texto de Diego Rosinha,
colaboração Marla Mera

Os dias 14 a 17 de novembro de 2019 foram especiais. Especiais porque foi durante esse período que ocorreu a maior edição do Morrostock em seus 13 anos de estrada, com mais de duas mil pessoas. A utopia estava presente no Balneário Ouro Verde (Santa Maria/RS), rodeada de mato e resistência contra “a gente ruim” – para usar do mestre Alceu Valença.

Ao todo foram mais de 40 atrações e oficinas que celebraram a diversidade em todos os aspectos, do público à sonoridade. O Morrostock de 2019 trouxe muita influência de música eletrônica, mas também o tradicional rock n’ roll, psicodelia, funk, rap, entre muitas coisas lindas e não rotuláveis.

Chamou atenção nesta edição do Morrostock, que tinha como atração principal a Nação Zumbi tocando os clássicos da afrociberdelia, a MC Tha. Paulista, essa jovem de 25 anos, mistura funk e Umbanda, a religião mais brasileira de todas as outras e que tem sido perseguida nesses tempos tenebrosos de “patriotas” que veneram o Tio Sam.

MC Tha

MC Tha tem uma leveza impressionante e transmite uma energia que supre uma técnica vocal ainda em construção. Ela, que tocou pela primeira vez em um festival da magnitude do Morrostock, com um público tão diverso, ficou fascinada com a troca proporcionada durante o show. “Muitos aqui já conheciam o meu trabalho, mas grande parte ainda não. O festival permitiu que eu levasse a minha mensagem a um público diferente”, disse.

Apesar da pouca idade, a MC Tha, como é chamada Thais da Silva, tem posição clara, tanto no campo religioso quanto no político. “Tenho dois objetivos, o de levar a mensagem da Umbanda para um público maior e de desconstruir o estereótipo de que a mulher que faz funk precisa ser gostosona, padronizada”. A artista ressaltou que não sofre nenhuma espécie de resistência no meio da Umbanda, pois o trabalho tem popularizado a Religião, especialmente em meio à geração mais jovem. Por outro lado, MC Tha destacou que existe um cenário de repressão no Brasil, que acaba, muitas vezes, deixando as pessoas “com medo da arte”, seja ela qual for. “Enquanto esse tempo não passar, porque ele vai passar, devemos estar juntos e nos cuidando”.

A 13ª edição do festival também se destacou pela representatividade da luta do povo negro e pelo espírito antirracista. Neste contexto, duas bandas de mulheres se destacaram, a Cores de Aidê e a Mulamba. A primeira emprestou todo o seu colorido para exaltar a força da mulher, especialmente a mulher negra, tudo com muita afinação e técnica! A Mulamba, que já conhecemos de outros carnavais – literalmente, pela épica apresentação no Psicodália deste ano, empoderou a mulher com seu som agressivo e o tom – mais do que necessário – de crítica social e política nestes tempos terríveis de ascensão do fascismo.

Nação Zumbi

O festival fechou com chave de ouro sob um sol escaldante. Bandinha Di Dá Dó com seu rock circense incendiou – quase que literalmente – o público. Na sequência, quem colocou o “bloco na rua” foi o Bloco da Laje, com seu carnaval libertário.

Próxima parada
O próximo festival alternativo traz uma parceira poderosa, do Psicodália e do Morrostock. O Morrodália, que ainda não tem programação confirmada – acompanhe as novidades por aqui -, ocorrerá no Carnaval, entre 21 e 26 de fevereiro de 2020, também no Balneário Ouro Verde. Até lá!

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